[Solar-ovejafm] Re: [PSL-Brasil] Fwd: Hermeto e a música livre

Martín Olivera martin.olivera at gmail.com
Tue Apr 7 21:21:09 CEST 2009


ni idea quien es pero para algun melomano le puede interesar

2009/4/7 Fabianne Balvedi <balvedi at gmail.com>

>
> ---------- Forwarded message ----------
> From: Adriano Belisário
> To: submidialogia at lists.riseup.net
>
>
> Hermeto Pascoal tem 72 anos e não passa mais de 24 horas sem rabiscar novas
> combinações de notas musicais e símbolos de percussão em pilhas de
> partituras. A única diferença para os tempos de criança é o papel. Na
> Alagoas dos anos 30, o pequeno Hermeto já compunha todo dia, em rios,
> árvores, na companhia dos passarinhos. Curiosamente, porém, o “Beethoven do
> século 20” (como o define o acordeonista Sivuca) nunca volta para rever as
> tais notas escritas. “Minhas músicas são pétalas soltas, estão voando por
> aí.”
>
> E, assim, Hermeto deixou suas pétalas ao vento. Desde novembro, abriu mão
> das licenças pela internet e liberou para uso de qualquer músico todas as
> composições registradas em seu nome. Nesta semana, promete disponibilizar
> parte da imensa e riquíssima discografia (são 34 álbuns) para download
> gratuito, num processo que chegará em alguns meses à totalidade da produção
> formal.
>
> Internet é um assunto até certo ponto desconhecido para Hermeto. Foi a
> parceira musical, espiritual e amorosa Aline Morena a fonte de influência
> digital do compositor. Quando começaram a namorar, em 2002, ela não se
> conformava que um artista do porte de Hermeto (referência internacional,
> inovador, vanguardista) não tivesse sequer um site próprio. Na lista de
> “desleixos” estava também a desorganização dos registros de músicas (que fez
> com que ele nunca ganhasse dinheiro com vendas de discos e CDs – só com
> shows).
>
> Aline resolveu o problema da comunicação e criou quatro sites, um para cada
> tipo de apresentação de Hermeto (com a Big Band, o Grupo, orquestras
> sinfônicas e para o duo com ela) e plantou na cabeça genial do compositor
> algumas sementes de cultura livre. Seria difícil o conceito não germinar. Em
> 1973, o visionário alagoano já batizava um álbum de A Música Livre de
> Hermeto Pascoal.
>
> A ideia de liberdade já estava desde então algo relacionada com a
> disseminação, a distribuição, a pulverização das composições. Um jargão
> famoso de Hermeto é a frase “tudo é música”. Se qualquer um faz música com
> qualquer coisa (objetos, plantas, voz, etc.) – e portanto as músicas dele
> são livres por natureza –, temos uma espécie de música de “código aberto”,
> colaborativa, termos comuns para leitores do noticiário de tecnologia e que
> desapareceram da música comercial antes do MP3.
>
> Isso tanto é transformador que a música livre evoluiu para o que hoje a
> dupla Hermeto Pascoal e Aline Morena chama de “música universal”. Nada a ver
> com a “world music” disseminada por aí, e que significa apenas a forma de as
> culturas dominantes globais aceitarem regionalismos como o brasileiro e o
> indiano, por exemplo. Música universal não é isso. É o que há de universal,
> primordial, anterior e essencial na música.
>
> Hermeto e Aline não usam idiomas conhecidos para compor canções sob o
> estigma universal. É uma letra formada por palavras inventadas sob uma
> lógica própria, não necessariamente com significados. É a busca da dupla
> pela sonoridade, por fonemas que provocam sensações – cuja liberdade também
> inclui a de interpretação. Assim, a composição da música universal só
> termina no momento em que ressoa nos tímpanos.
>
> Essa abordagem “alinguística” também faz parte das pesquisas mais avançadas
> hoje em artes cênicas. O diretor inglês Peter Brook chegou a algo parecido à
> música universal de Hermeto com o teatro rústico, nos anos 1970. Brook e os
> atores de diversas nacionalidades do Centre International de Recherche
> Théâ-trale (Cirt) parisiense passaram três meses de 1974 em tribos africanas
> para entender o que havia no teatro que se comunicava com qualquer cultura
> (gestos, sons, expressões, ritmos). A pesquisa fez avançar as descobertas
> contemporâneas de linguagem – equivalente ao que o brasileiro Hermeto fez na
> música.
>
> A última criação organizada do compositor foi Chimarrão com Rapadura, CD e
> DVD de 2006 em dupla com Aline Morena. Imagine a dificuldade de selecionar
> 19 canções e melodias entre as centenas criadas diariamente. Nesse álbum,
> Hermeto toca cavaco, pandeiro, surdo, escaleta, piano com fita crepe, caixa,
> zabumba, triângulo, baixo, flauta doce, viola caipira, fole, flauta-baixo,
> percussão com teclas, flugelhorn, iefone, brinquedos, balde, garfo, faca,
> trumpetinho, chavozeleira, piano, porta, copos de plástico e mangueira. O
> detalhe é que nem tudo é instrumento.
>
> Apesar da variedade de artefatos sonoros, Hermeto Pascoal não se encantou
> ainda pelos sons fabricados. Não há quase nada sintético na obra que já dura
> 53 anos, mesmo com a invasão de aparelhos eletrônicos dos últimos 30. “Nada
> contra esse tipo de música. Mas, para mim, os sons devem ser naturais. Têm
> mais sabor.”
>
> Nascido na roça alagoana, ele morou mais de 20 anos em São Paulo, gravou
> nos Estados Unidos com Miles Davis, influenciou Beatles com o Quarteto Novo,
> é festejado por onde passa no mundo. Prega a música aberta. Hoje mora em
> Curitiba e nunca deixou de fugir do sol. A pele albina sofre, os olhos
> também. É só o que há de hermético em Hermeto Pascoal.
>
> http://www.link.estadao.com.br/index.cfm?id_conteudo=15545
>
>
>
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