[Macronoroeste-campinas] Fwd: Os motivos da luta dos Guaranis e Kaiowás pelos territórios tradicionais

Isabel Silva Barbosa belbarbosa.95 em gmail.com
Segunda Novembro 19 18:31:41 CET 2012


Para conhecimento e reflexão...
bom fianl de feriado
Bel
---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Adolf Deny Motter Florencio <adolf.dflorencio em sp.senac.br>
Data: 14 de novembro de 2012 11:58
Assunto: Os motivos da luta dos Guaranis e Kaiowás pelos territórios
tradicionais






Os motivos da luta dos Guaranis e Kaiowás pelos territórios tradicionais

Crédito: Antonio Cruz/ABr
[http://www.setor3.com.br/image/8730.jpg]
Eliseo Lopes Kaiowá, representante indígena, participa de audiência
pública, na Comissão de Direitos Humanos no Senado para discutir a situação
do povo Guarani-Kaiowá, no início deste mês




A pretensão deste artigo é fazer uma breve análise das motivações
principais que levaram historicamente e ainda levam hoje os Guaranis e
Kaiowás a retornarem aos territórios tradicionais, tekoha guasu, de onde
foram expulsos e dispersos. Além disso, pretende-se ressaltar os
significados vitais dos territórios específicos reivindicados para os povos
Guaranis e Kaiowás. Esses territórios tradicionais estão localizados nas
margens das bacias dos rios situados no cone sul do estado do Mato Grosso
do Sul.

Como é sabido, no início da segunda metade do século XX, intensificou-se o
processo de colonização oficial do sul do atual estado do Mato Grosso do
Sul, e inúmeras comunidades Guaranis e Kaiowás foram expropriadas e
expulsas de seus territórios antigos, sendo, na maioria dos casos,
transferidas e confinadas nas Reservas Indígenas e/ou Postos Indígenas do
Serviço de Proteção dos Índios (SPI). Diante desse quadro, iniciativas de
articulação e luta de várias lideranças Guaranis e Kaiowás para retornar
aos antigos territórios começaram a despontar no final da década de 1970.

Os grandes rituais religiosos – jeroky guasu – foram fundamentais para os
líderes políticos e religiosos se envolverem nos processos de reocupação e
recuperação dos territórios tradicionais específicos. A atuação, ação e
valorização dos saberes Guaranis e Kaiowás, rituais religiosos e a
intermediação dos líderes religiosos nos processos de reocupação e
recuperação de parte dos territórios tradicionais foram e são muito
importantes para este povo. Nesse sentido, é importante explicitar que as
manifestações rituais e religiosas observadas em situações de reocupação de
territórios tradicionais expressam uma ação e concepção indígena bem
específica e inteiramente desconhecida dos não indígenas, gerando
diferentes reações e posições entre as diversas autoridades envolvidas em
conflitos fundiários, tais como, fazendeiros e instituições do Estado
brasileiro, e Justiça.

É relevante considerar que os Guaranis e Kaiowás sentem-se originários dos
espaços territoriais reivindicados, e que, nos últimos 30 anos, tendo sido
privados da possibilidade de se reassentarem nos seus territórios
tradicionais e sobreviver conforme seus usos, costumes e crenças, passaram
a investir reiteradamente nas táticas de recuperação deles.

Em relação ao significado vital do território para o povo Guarani e Kaiowá
é preciso observar em detalhe o modo específico de relacionamento desses
indígenas com os seres invisíveis/guardiões (protetores/deuses) da terra,
manifestados através de cantos e rituais diversos dos líderes espirituais.
O respeito a esses seres humanos invisíveis e a forma de diálogo com eles
marca uma diferença muito importante em relação à percepção e ao uso dos
recursos naturais da terra. Este é um aspecto fundamental e determinante do
relacionamento dos Guaranis e Kaiowás com os territórios antigos. Ao lutar
pela recuperação dos territórios, já nas terras reocupadas/retomadas, os
Guaranis e Kaiowás demonstram e acionam claramente a sua especificidade e
condição de pertencimentos aos territórios de origem.

Importante observar que os Guaranis e Kaiowás têm ligação e conexão direta
com os territórios específicos, considerando-se a si e aos territórios como
uma só família, dado que o território específico é visto por esses
indígenas como humano. Os Guaranis e Kaiowás possuem um forte sentimento
religioso de pertencimento ao território específico, fundamentado em termos
cosmológicos, sob a compreensão religiosa de que os Guaranis e Kaiowás
foram destinados, em sua origem como humanidade, a viver, usufruir e a
cuidar deste território específico, de modo recíproco e mútuo, portanto
eles podem até morrer para salvar a terra. Há um compromisso irrenunciável
entre os Guaranis e Kaiowás e o guardião/protetor da terra, há pacto de
diálogo e apoio recíproco e mútuo: os Guaranis e Kaiowás protegem e
gerenciam os recursos da terra, por sua vez, o guardião da terra vigia e
nutre os Guaranis e Kaiowás.

A compreensão dos espaços territoriais pelos Guaranis e Kaiowás tem uma
concepção cosmológica específica, sui generis, e uma fundamentação
cosmológica e histórica que se enraíza em tempos passados. Assim, o
processo de luta antiga pela reocupação e recuperação dos territórios
tradicionais é uma ação exclusivamente indígena interconectada aos seres do
cosmo Guaranis e Kaiowás, ou seja, trata-se de uma concepção etnicamente
diferenciada, eles sentem profundamente a importância de retornar ao
território específico.

Dessa forma, a luta de recuperação das antigas áreas ocupadas pelos
Guaranis Kaiowás é realizada por meio de retorno ao território,
caracterizado como um movimento pacífico e político-religioso exclusivo.
Isto é, trata-se de uma articulação política, comunitária e
intercomunitária de lideranças religiosas Guaranis e Kaiowás.
Nesse contexto, destaca-se o papel da Aty Guasu, uma assembleia geral
realizada entre as lideranças políticas e religiosas dos Guaranis e Kaiowás
a partir do final de 1970. Decisões vitais que afetam a todos, como
decisões sobre a recuperação de parte dos territórios antigos, por exemplo,
são discutidas religiosamente e acatadas. A Aty Guasu é definida como o
único foro legítimo de discussão religiosa e de decisão articulada das
lideranças políticas e religiosas dos Guaranis e Kaiowás.

Por fim, o que se deve ressaltar, como conclusão parcial do que foi
exposto, é a importância da continuidade histórica da luta
político-religiosa das lideranças Guaranis e Kaiowás.

*Tonico Benites é Guarani-Kaiowá, mestre e doutorando em Antropologia
Social do Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O
artigo foi produzido originalmente para o boletim do Conselho Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional: www.planalto.gov.br/consea<
http://www.planalto.gov.br/consea>





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Adolf Deny Motter Florencio

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