[Macronoroeste-campinas] [Eli dos Santos Fernandes] Um grave desmonte do programa voltado ao controle e prevenção da aids
Eli Fernandes
fernandeseli em gmail.com
Sábado Outubro 27 00:35:23 CEST 2012
Prezados colegas,
Um grave desmonte do programa voltado ao controle e prevenção da AIDS, e
que foi modelo nacional e internacional, está para ocorrer através de uma
portaria que deve ser assinada em breve. Abaixo os detalhes. Solicitamos
que divulguem para quem vocês acharem que possa estar interessado.
Zé Carlos
Governo aprofunda crise e libera recursos destinados à AIDS para outras
ações em saúde.
O Ministério da Saúde (MS) está prestes a publicar uma portaria que
liberará Estados e Municípios a utilizarem para "fins gerais da saúde"
recursos que eram repassados pela União para uso exclusivo da AIDS e que,
por inoperância, descompromisso ou falta de atenção, não foram utilizados
até dezembro de 2011.
Desde o ano passado a sociedade civil vem denunciando que tais recursos
estavam estagnados sem justificativa há meses e - em alguns casos há anos -
nos cofres dos Estados e Municípios em todo o país e vinha pressionando o
MS para que criasse mecanismos que evitassem a estagnação deste dinheiro
que, em setembro de 2012 representava um montante acumulado da ordem de 135
milhões de reais.
Ao contrário do que foi demandado, a recente decisão da Comissão
Intergestores Tripartite é um atestado público do desmonte da política de
Aids no Brasil que retrocedeu nos últimos anos em função também da não
aplicação dos recursos destinados ao seu enfrentamento e da não priorização
por parte dos governos municipais e estaduais que pouca ou nenhuma
importância dão para a epidemia.
Além de liberar os recursos parados para fins diversos, para agravar o
problema, foi anunciado na reunião de Gestores de Programas estaduais e
municipais de AIDS, COGE, na última segunda feira, 22, em Brasília, a
revogação completa da Política de Incentivo a partir de 2014. Para AIDS
isso significa o fim da portaria 2313[1] criada em 2002 exatamente
pela "necessidade de recursos específicos para o financiamento do combate à
epidemia, dada a complexidade de ações a serem permanentemente
desenvolvidas e ofertadas, abrangendo um largo espectro de atividades (..);
para garantia de novos avanços e continuidade do padrão de qualidade e de
resultados que vêm sendo alcançados".
Com o fim da política de incentivo e de recursos carimbados, a política de
AIDS no Brasil sofre um golpe duro, numa decisão tomada pelo governo Dilma
sem discussão com a sociedade civil. Sofrerão mais ainda as populações
afetadas – já são quase 700 mil casos registrados – que, como se sabe, têm
alto histórico de exclusão social e irão agora disputar recursos com
centenas de outros agravos. Se os recursos transferidos via política de
incentivo já não eram utilizados apropriadamente mesmo quando específicos a
este fim, é difícil crer que os mesmos gestores, passem a priorizar a AIDS
e, certamente será ainda mais difícil para a sociedade civil monitorar o
seu uso.
Uma morte anunciada– O pano de fundo deste desmonte está baseado em dois
pilares interdependentes: um deles, o mais evidente e grave, é a
progressiva privatização do SUS, com repasses cada vez maiores para compras
de serviços ao setor privado, aquisição de tecnologias, na maioria das
vezes obsoletas ou que se quebram ao primeiro uso, e de insumos
laboratoriais e farmacêuticos nem sempre direcionados a real necessidade
dos problemas de saúde local; o segundo, a mudança progressiva e lenta do
modelo de atenção, aliás a retomada ao modelo hospitalocêntrico, agora
travestido de um modelo que elege a atenção primária como porta de entrada
de um sistema de saúde, que se diz universal e público, mas cujas vedetes
são as Unidades de Pronto Atendimento que são, contraditoriamente,
administradas como privadas.
Vale ressaltar que tal decisão ocorre no momento em que as ONGs ea academia
têm acirrado, dentro e fora do país, as críticas ao Ministério da Saúde
denunciando graves retrocessos na política de AIDS brasileira que já foi,
em décadas anteriores, considerada a melhor do mundo, e que agora
encontra-se refém de influências religiosas e conservadoras e busca colocar
as ONG AIDS em antagonismo com o SUS eo movimento de saúde. Uma cartada de
má-fé que só evidencia a tentative óbvia da diminuição do controle público
e da participação pessoas vivendo com AIDS na construção da resposta de
AIDS, principais estratégias de um movimento articulado como o de AIDS que
historicamente foi fundamental na consolidação do princípio do direito à
saúde e da universalidade do SUS.
Agenda:
Nos dias 30 e 31 de outubro lideranças do movimento AIDS de todo o país
estarão em Brasília para uma série de reuniões com o Departamento Nacional
de AIDS; e no dia 08 de novembro o tema é pauta do Conselho Nacional de
Saúde. Demanda-se que que o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha,
estabeleça conjuntamente com a sociedade civil, uma solução verdadeiramente
eficaz para a política de incentivo no Brasil que promova a erradicação da
AIDS, não da política nacional de combate ao problema.
O texto da portaria, está disponível no site do Ministério da Saúde, no
endereçohttp://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/3f_181012.pdf
[1] Portaria n.º 2313/GM Em 19 de dezembro de 2002.
http://brasilsus.com.br/legislacoes/gm/7354-2313.html?q=
--
Postado por Eli Fernandes no Eli dos Santos Fernandes em 10/26/2012
03:35:00 PM
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