[Macronoroeste-campinas] Boaventura de Sousa Santos: Carta às esquerdas

PONTOS SP - Robson Sampaio reductio.ad.ethos em gmail.com
Sexta Setembro 9 05:45:58 CEST 2011


*
*
     *Colunistas<http://www.cartamaior.com.br/templates/colunistasMostrar.cfm?idioma_id=1&alterarHomeAtual=1>|
24/08/2011 | Copyleft  *
 *http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5169
*
*
*
*
DEBATE ABERTO*
 Carta às esquerdas *Livre das esquerdas, o capitalismo voltou a mostrar a
sua vocação anti-social. Voltou a ser urgente reconstruir as esquerdas para
evitar a barbárie. Como recomeçar? Pela aceitação de algumas ideias. A
defesa da democracia de alta intensidade é a grande bandeira das esquerdas.*
* Boaventura de Sousa Santos*

Não ponho em causa que haja um futuro para as esquerdas mas o seu futuro não
vai ser uma continuação linear do seu passado. Definir o que têm em comum
equivale a responder à pergunta: o que é a esquerda? A esquerda é um
conjunto de posições políticas que partilham o ideal de que os humanos têm
todos o mesmo valor, e são o valor mais alto. Esse ideal é posto em causa
sempre que há relações sociais de poder desigual, isto é, de dominação.
Neste caso, alguns indivíduos ou grupos satisfazem algumas das suas
necessidades, transformando outros indivíduos ou grupos em meios para os
seus fins. O capitalismo não é a única fonte de dominação mas é uma fonte
importante.

Os diferentes entendimentos deste ideal levaram a diferentes clivagens. As
principais resultaram de respostas opostas às seguintes perguntas. Poderá o
capitalismo ser reformado de modo a melhorar a sorte dos dominados, ou tal
só é possível para além do capitalismo? A luta social deve ser conduzida por
uma classe (a classe operária) ou por diferentes classes ou grupos sociais?
Deve ser conduzida dentro das instituições democráticas ou fora delas? O
Estado é, ele próprio, uma relação de dominação, ou pode ser mobilizado para
combater as relações de dominação?

As respostas opostas as estas perguntas estiveram na origem de violentas
clivagens. Em nome da esquerda cometeram-se atrocidades contra a esquerda;
mas, no seu conjunto, as esquerdas dominaram o século XX (apesar do nazismo,
do fascismo e do colonialismo) e o mundo tornou-se mais livre e mais igual
graças a elas. Este curto século de todas as esquerdas terminou com a queda
do Muro de Berlim. Os últimos trinta anos foram, por um lado, uma gestão de
ruínas e de inércias e, por outro, a emergência de novas lutas contra a
dominação, com outros atores e linguagens que as esquerdas não puderam
entender.

Entretanto, livre das esquerdas, o capitalismo voltou a mostrar a sua
vocação anti- social. Voltou a ser urgente reconstruir as esquerdas para
evitar a barbárie. Como recomeçar? Pela aceitação das seguintes ideias.

Primeiro, o mundo diversificou-se e a diversidade instalou-se no interior de
cada país. A compreensão do mundo é muito mais ampla que a compreensão
ocidental do mundo; não há internacionalismo sem interculturalismo.

Segundo, o capitalismo concebe a democracia como um instrumento de
acumulação; se for preciso, ele a reduz à irrelevância e, se encontrar outro
instrumento mais eficiente, dispensa-a (o caso da China). A defesa da
democracia de alta intensidade é a grande bandeira das esquerdas.

Terceiro, o capitalismo é amoral e não entende o conceito de dignidade
humana; a defesa desta é uma luta contra o capitalismo e nunca com o
capitalismo (no capitalismo, mesmo as esmolas só existem como relações
públicas).

Quarto, a experiência do mundo mostra que há imensas realidades não
capitalistas, guiadas pela reciprocidade e pelo cooperativismo, à espera de
serem valorizadas como o futuro dentro do presente.

Quinto, o século passado revelou que a relação dos humanos com a natureza é
uma relação de dominação contra a qual há que lutar; o crescimento económico
não é infinito.

Sexto, a propriedade privada só é um bem social se for uma entre várias
formas de propriedade e se todas forem protegidas; há bens comuns da
humanidade (como a água e o ar).

Sétimo, o curto século das esquerdas foi suficiente para criar um espírito
igualitário entre os humanos que sobressai em todos os inquéritos; este é um
patrimônio das esquerdas que estas têm vindo a dilapidar.

Oitavo, o capitalismo precisa de outras formas de dominação para florescer,
do racismo ao sexismo e à guerra e todas devem ser combatidas.

Nono, o Estado é um animal estranho, meio anjo meio monstro, mas, sem ele,
muitos outros monstros andariam à solta, insaciáveis à cata de anjos
indefesos. Melhor Estado, sempre; menos Estado, nunca.

Com estas ideias, vão continuar a ser várias as esquerdas, mas já não é
provável que se matem umas às outras e é possível que se unam para travar a
barbárie que se aproxima.

*Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade
de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).*




-- 
Robson Bomfim***

Tuxaua:Nós na Interseção Digital
GNU/LINUX user # 489500
e-mail: reductio.ad.ethos em gmail.com
skype: rbscamba1
gtalk: reductio.ad.ethos
twitter: @rbscamba
-
-----    --- eSPAço LivRe dE ArTe---    ----
*** *Free Art CiberNeticA   --- Gimp---    Inkscape
XiluGraVida   @!---§§§#---      /Debian/ /linux/GNU
/Linux--#$ 00101101010010 love bits***.*

http://lattes.cnpq.br/7461730442638498
http://robsonsampaio.batemacumba.net/
http://www.trilhasdaserra.org.br/ponto_de_cultura.asp

"A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho
original." Albert Einstein
-------------- Próxima Parte ----------
Um anexo em HTML foi limpo...
URL: https://lists.ourproject.org/pipermail/macronoroeste-campinas/attachments/20110909/25d74576/attachment.htm 


Mais detalhes sobre a lista de discussão Macronoroeste-campinas