<div dir="ltr"><br><div class="gmail_quote"><div text="#000000" bgcolor="#ffffff">
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<div style="text-align: center;"><i><b><span><a href="http://www.cartamaior.com.br/templates/colunistasMostrar.cfm?idioma_id=1&amp;alterarHomeAtual=1" target="_blank">Colunistas</a><span>| 24/08/2011 | Copyleft </span> </span></b></i></div>


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<div style="text-align: center;"><i><b><a href="http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5169" target="_blank">http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5169</a><br>
</b></i></div>
<i><b><br>
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<div style="text-align: center;"><i><b><img src="http://www.cartamaior.com.br/arquivosCartaMaior/FOTO/3/foto_col_6059.jpg"></b>
<b><br>
DEBATE ABERTO</b></i><br>
</div>
<h1 style="text-align: center;">Carta às esquerdas</h1>
<h2 style="text-align: center;"><font size="2"><b>Livre das esquerdas,
o capitalismo voltou a mostrar a sua vocação anti-social. Voltou a ser
urgente reconstruir as esquerdas para evitar a barbárie. Como
recomeçar? Pela aceitação de algumas ideias. A defesa da democracia de
alta intensidade é a grande bandeira das esquerdas.</b></font></h2>
<div style="text-align: center;"><font size="2"><b>
Boaventura de Sousa Santos</b></font><br>
</div>
<br>
<font size="4">Não ponho em causa que haja um futuro para as esquerdas
mas o seu futuro não vai ser uma continuação linear do seu passado.
Definir o que têm em comum equivale a responder à pergunta: o que é a
esquerda? A esquerda é um conjunto de posições políticas que partilham
o ideal de que os humanos têm todos o mesmo valor, e são o valor mais
alto. Esse ideal é posto em causa sempre que há relações sociais de
poder desigual, isto é, de dominação. Neste caso, alguns indivíduos ou
grupos satisfazem algumas das suas necessidades, transformando outros
indivíduos ou grupos em meios para os seus fins. O capitalismo não é a
única fonte de dominação mas é uma fonte importante.<br>
<br>
Os diferentes entendimentos deste ideal levaram a diferentes clivagens.
As principais resultaram de respostas opostas às seguintes perguntas.
Poderá o capitalismo ser reformado de modo a melhorar a sorte dos
dominados, ou tal só é possível para além do capitalismo? A luta social
deve ser conduzida por uma classe (a classe operária) ou por diferentes
classes ou grupos sociais? Deve ser conduzida dentro das instituições
democráticas ou fora delas? O Estado é, ele próprio, uma relação de
dominação, ou pode ser mobilizado para combater as relações de
dominação? <br>
<br>
As respostas opostas as estas perguntas estiveram na origem de
violentas clivagens. Em nome da esquerda cometeram-se atrocidades
contra a esquerda; mas, no seu conjunto, as esquerdas dominaram o
século XX (apesar do nazismo, do fascismo e do colonialismo) e o mundo
tornou-se mais livre e mais igual graças a elas. Este curto século de
todas as esquerdas terminou com a queda do Muro de Berlim. Os últimos
trinta anos foram, por um lado, uma gestão de ruínas e de inércias e,
por outro, a emergência de novas lutas contra a dominação, com outros
atores e linguagens que as esquerdas não puderam entender. <br>
<br>
Entretanto, livre das esquerdas, o capitalismo voltou a mostrar a sua
vocação anti- social. Voltou a ser urgente reconstruir as esquerdas
para evitar a barbárie. Como recomeçar? Pela aceitação das seguintes
ideias.<br>
<br>
Primeiro, o mundo diversificou-se e a diversidade instalou-se no
interior de cada país. A compreensão do mundo é muito mais ampla que a
compreensão ocidental do mundo; não há internacionalismo sem
interculturalismo. <br>
<br>
Segundo, o capitalismo concebe a democracia como um instrumento de
acumulação; se for preciso, ele a reduz à irrelevância e, se encontrar
outro instrumento mais eficiente, dispensa-a (o caso da China). A
defesa da democracia de alta intensidade é a grande bandeira das
esquerdas. <br>
<br>
Terceiro, o capitalismo é amoral e não entende o conceito de dignidade
humana; a defesa desta é uma luta contra o capitalismo e nunca com o
capitalismo (no capitalismo, mesmo as esmolas só existem como relações
públicas). <br>
<br>
Quarto, a experiência do mundo mostra que há imensas realidades não
capitalistas, guiadas pela reciprocidade e pelo cooperativismo, à
espera de serem valorizadas como o futuro dentro do presente. <br>
<br>
Quinto, o século passado revelou que a relação dos humanos com a
natureza é uma relação de dominação contra a qual há que lutar; o
crescimento económico não é infinito. <br>
<br>
Sexto, a propriedade privada só é um bem social se for uma entre várias
formas de propriedade e se todas forem protegidas; há bens comuns da
humanidade (como a água e o ar). <br>
<br>
Sétimo, o curto século das esquerdas foi suficiente para criar um
espírito igualitário entre os humanos que sobressai em todos os
inquéritos; este é um patrimônio das esquerdas que estas têm vindo a
dilapidar. <br>
<br>
Oitavo, o capitalismo precisa de outras formas de dominação para
florescer, do racismo ao sexismo e à guerra e todas devem ser
combatidas.<br>
<br>
Nono, o Estado é um animal estranho, meio anjo meio monstro, mas, sem
ele, muitos outros monstros andariam à solta, insaciáveis à cata de
anjos indefesos. Melhor Estado, sempre; menos Estado, nunca.<br>
<br>
Com estas ideias, vão continuar a ser várias as esquerdas, mas já não é
provável que se matem umas às outras e é possível que se unam para
travar a barbárie que se aproxima.</font><br>
<br>
<b>Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da
Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).</b><br>
</div>
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</div><font color="#888888">
<br>
</font></div>

</div><br><br clear="all"><br>-- <br><div dir="ltr">Robson Bomfim*** <br><br>Tuxaua:Nós na Interseção Digital<br>GNU/LINUX user # 489500<br>e-mail: <a href="mailto:reductio.ad.ethos@gmail.com" target="_blank">reductio.ad.ethos@gmail.com</a><br>

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<a href="http://www.trilhasdaserra.org.br/ponto_de_cultura.asp" target="_blank">http://www.trilhasdaserra.org.br/ponto_de_cultura.asp</a><br><br>&quot;A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho 
original.&quot;

Albert Einstein<br></div><br>
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