[Macronoroeste-campinas] Tragédia:Os governos falharam.Todos!!

PONTOS SP - Robson Sampaio reductio.ad.ethos em gmail.com
Domingo Janeiro 16 18:27:25 CET 2011


  *A chuva era prevista. Mas não houve prevenção, fiscalização nas ocupações
das encostas nem planos de contingência. O resultado de tanto descaso foi a
maior catástrofe da história do Brasil*
Francisco Alves Filho, de Nova Friburgo; Wilson Aquino, de Teresópolis; e
Rafael Teixeira do RJ – ISTOÉ

Vídeo traz as fotografias dos momentos mais marcantes da tragédia que
atingiu a região serrana do Rio de Janeiro. Confira imagens de dor, luta e
esperança:

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*TRAGÉDIA
Barro e detritos cobrem vítimas em Teresópolis*
Foi tudo muito rápido, como sempre é. Não se passou uma dúzia de horas entre
o início do que parecia ser mais uma simples tempestade de verão e as
avalanches de lama, pedras e paus que colocaram fim à vida de mais de 500
pessoas e devastaram cidades inteiras da região serrana do Rio de Janeiro.
Foi assim, de repente, que a cadeia de montanhas que encantam os cariocas há
mais de um século abandonou a aparência sólida e se liquefez. No caminho
entre as escarpas íngremes e verdes da Serra do Mar até os vales que a
formam, a terra em estado líquido não fez distinção e levou com ela tudo o
que estava à sua frente: árvores, pedras, casas, carros e uma quantidade
aterradora de vidas. Quando amanheceu, o mundo ali era outro. Em
Teresópolis, onde antes havia casas, ruas, escolas, um macabro cemitério ao
livre surgiu. O charmoso centro de Nova Friburgo deu lugar a uma camada
espessa de lama, detritos e entulhos, escondendo sob ela dezenas de corpos.
Em São José do Vale do Rio Preto, o riacho que corta a cidade e serviu de
inspiração para Tom Jobim escrever os célebres versos de “Águas de Março”
transformou-se em uma corredeira de águas caudalosas, que com sua força
destruiu casas, pontes e vidas. Foi assim, com uma rapidez e uma fúria
impressionantes, que a maior tragédia natural da história brasileira
encontrou seu desfecho numa típica noite quente e úmida de verão.

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[image: img2.jpg]
Sua gênese, no entanto, foi lenta e gradual, e o resultado, previsível.
Marcada por características geológicas e climáticas instáveis, a região
serrana do Rio de Janeiro está acostumada a recolher corpos sob a terra
úmida. Tem sido assim desde as primeiras ocupações, mostram relatos de dom
Pedro II, que, como faz hoje a elite carioca, subia à serra para fugir do
calor inclemente que castiga a cidade do Rio de Janeiro no verão. Nem mesmo
a carnificina de 1967, quando 300 pessoas morreram nas mesmas situações de
agora, foi o bastante para se aceitar que, ali, a natureza não se intimida
para determinar o curso da vida. Até agora, o resultado dessas tragédias se
resume a uma ladainha cíclica de promessas que raramente se traduzem em
ações concretas e que sempre terminam nos cemitérios. Foi assim em 1967,
como foi em 2008, em Santa Catarina, ou no ano passado, em Angra dos Reis e
em Niterói. “Não há desculpa para colocar a culpa nas chuvas, o Brasil não é
Bangladesh”, diz a diretora do Centro para a Pesquisa de Epidemiologias da
ONU, Debarati Guha-Sapir, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo” no
mesmo dia em que a Organização das Nações Unidas colocava o acidente
fluminense como o décimo mais letal entre os deslizamentos de terra da
história.

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Debarati tem razão. Ao contrário do país espremido entre a Índia e Mianmar,
há dinheiro, tecnologia e mão de obra farta no Brasil para evitar que tantas
pessoas percam a vida em uma região tão propensa a acidentes. Dois casos
recentes mostram como investimento, controle da ocupação do solo e
preparação podem poupar vidas. Na Austrália, neste início de ano, choveu
mais do que na região serrana do Rio. No entanto, apenas 19 pessoas perderam
a vida por lá. Na Ilha da Madeira, uma região também montanhosa, choveu no
ano passado tanto quanto choveu em Nova Friburgo, a cidade mais atingida
nesta última tragédia. O número de mortes em Portugal não chegou a 10% das
vítimas fluminenses.

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*NO CENTRO DA CIDADE
Morro desabou em Nova Friburgo, destruiu partes de um edifício
e soterrou casas, deixando os moradores entocados*

Nesses tempos de pânico ambiental, as mudanças climáticas têm sido os
algozes perfeitos dos governantes para justificar o injustificável. “Estamos
falando de décadas e décadas de administrações omissas”, diz o cientista
político Luiz Werneck Viana. “Faltou às prefeituras fiscalizar as zonas em
que as ocupações irregulares acontecem, faltou aos Estados desenvolver
planos para essas regiões, faltou ao governo federal priorizar a questão do
planejamento urbano e da habitação.” A fatura pela falta de investimentos
chegou, enfim, mais alta do que nunca.“Os governantes têm uma visão míope
que só vale para os quatro anos de mandato”, critica David Zee, coordenador
de mestrado em meio ambiente da universidade carioca Veiga de Almeida.
“Estado, município e federação têm obrigação de trabalhar de forma
integrada, mas todas essas esferas têm sido historicamente omissas.”

Como foram, mais uma vez, neste início de ano. Não há quem conteste que o
volume de chuvas que castigou as cidades fluminenses foi de uma intensidade
rara. Em menos de 12 horas choveu praticamente o mesmo que era esperado para
todo o mês em Nova Friburgo. Mas o inadmissível em um caso como esse é a
absoluta falta de preparação e coordenação do poder público para mitigar os
efeitos de um desastre iminente e, pior, a completa ausência de planejamento
prévio para lidar com suas consequências. Tudo parece ser feito de última
hora, como se as soluções só pudessem ser encontradas diante dos
acontecimentos. Não há dúvida de que as chuvas da madrugada da quarta-feira
causariam deslizamentos e inundações, mesmo que não houvesse ocupação
irregular do solo. Os danos materiais também são justificáveis por conta da
dimensão das chuvas. Mas, se um simples sistema de alerta funcionasse, o
número de vítimas poderia ser reduzido de forma drástica. A tragédia
fluminense é repleta de exemplos de como nada disso foi feito, nas duas
pontas da incompetência administrativa.

[image: img3.jpg]

Na tarde de terça-feira, horas antes do início do temporal, o radar
instalado pela Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro no ano passado já
emitia dados mostrando que uma chuva de grande intensidade se aproximava da
região serrana. O equipamento, conhecido como Doppler, foi adquirido após as
chuvas que mataram mais de uma centena de pessoas na região metropolitana da
capital fluminense e tem capacidade de cobrir um raio de 250 quilômetros,
quase duas vezes a distância que separa o Rio de Nova Friburgo. Mas, por
razões que ainda não estão claras, não havia técnicos disponíveis ou
capacitados para analisar esses dados e disparar o alerta. Já o Instituto de
Pesquisas Aeroespaciais, o Inpe, informou à Defesa Civil do Estado do Rio de
Janeiro que um grande temporal estava se formando na região serrana. O órgão
recebeu o aviso por volta das 15 horas de terça-feira e diz que emitiu o
alerta às cidades por meio de e-mail. Mas a comunicação parece não ter sido
benfeita. Os agentes da Defesa Civil de Teresópolis, onde mais de 200
pessoas perderam a vida, garantem que não receberam nada.

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A tragédia desta semana só é atípica no número de mortes. No mais, é uma
simples repetição do que ocorre ali há mais de um século, e que vem se
agravando com o aumento da população. No entanto, horas após mais de cinco
centenas de corpos estarem espalhados por toda a região, o poder público
parecia não ter nenhum plano para lidar com uma situação como essa. Não
havia, por exemplo, tarefas predefinidas para os atores públicos, como é de
se esperar em uma região que anualmente sofre com desastres exatamente
iguais a esse. Tudo parece ter sido resolvido de última hora. E as
autoridades pareciam se orgulhar ao informar que a Marinha havia emprestado
dois helicópteros, que o Bope, especializado no combate armado contra
traficantes, havia liberado ônibus ou que o Exército enviara caminhões
frigoríficos para dar conta do número extraordinário de corpos que eram
recolhidos.

[image: chuvas-rio.jpg]

“É preciso criar os agentes comunitários, as brigadas locais em cada
distrito, em cada município. São essas pessoas que dão as diretrizes em
situações como essa e mostram o que fazer até a chegada do socorro oficial”,
diz a vereadora Andréa Gouveia Vieira (PSDB/RJ). A família do marido de
Andréa é proprietária do sítio que fora alugado para a estilista e designer
Daniela Conolly e parentes. Invadida por água, lama e entulho, a casa foi
soterrada junto com Daniela e mais sete membros de sua família (leia
quadro). “A casa existia há mais de 70 anos. Nunca aconteceu algo dessa
magnitude lá. O rio subiu em uma velocidade enorme, foi um volume de água
impossível de ser contido. Havia 18 pessoas na casa, 14 morreram”, disse a
vereadora. Embora seja política, seu discurso é o mesmo de qualquer cidadão
comum: cansaço com as promessas nunca cumpridas de reflorestamento, limpeza
dos rios, remoção de pessoas de áreas de risco.
Como em qualquer acidente, a causa não é uma só. É uma soma de erros de
várias origens, entre as quais o inaceitável descaso com o meio ambiente.
“Gerações foram criadas sem que houvesse uma preocupação ambiental. Houve
uma ocupação desordenada com construção de residências em encostas”, aponta
Luís Eduardo Peixoto, presidente do comitê de ações emergenciais de
Petrópolis.

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*PERIGO
Trabalho de resgate num desabamento em Nova Friburgo*

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[image: img13.jpg]
*SOB PRESSÃO
Bombeiros também viram vítimas.
Corpo de soldado é removido*

[image: img15.jpg]
*DESTRUIÇÃO
Carro arrastado em Petrópolis*

Aquecimento global e desmatamentos são algumas das causas de tragédias que
têm acontecido no mundo. O aumento da população urbana é outra ponta do
desequilíbrio. A pesquisadora mineira Waleska Marcy Rosa, 41 anos, do Centro
Universitário Serra dos Órgãos, fez, em 2007, um estudo comparativo entre os
municípios de Teresópolis e Petrópolis e concluiu que a ocupação das áreas
de encosta dos dois municípios cresceu demasiadamente a partir da década de
1960, à sombra da fraca atuação do poder público, que, além de não conseguir
impedir as ocupações irregulares, muitas vezes até as regulamentou. “É a
desgraça do populismo, a permissividade de deixar a ocupação de áreas de uma
maneira irresponsável como se eles (políticos) fossem aliados dos mais
pobres”, comenta o governador Sérgio Cabral, obviamente excluindo-se da
culpa que aponta nos outros governantes.

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Não há como, no entanto, negar que a responsabilidade maior é do poder
municipal. “São as prefeituras que regulam o uso do solo, autorizam
construções e fiscalizam regiões de risco”, diz o cientista político Ignácio
Cano, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Para ele, a
situação chegou a um ponto em que “é preciso uma política com um componente
repressivo que impeça a construção irregular e remova quem está em área de
risco”. A própria presidente Dilma Rousseff, que esteve na cidade na
quinta-feira 13, reforça essa visão. “Ocupação irregular no Brasil não é
exceção, é regra.” Segundo o secretário-geral da ONG Contas Abertas, Gil
Castello Branco, no ano passado foram gastos 13 vezes mais com a resposta do
que com a prevenção. Ele afirma que houve um investimento de R$ 2,3 bilhões
para remediar e apenas R$ 167,5 milhões para prevenir. Castello Branco
critica também a má distribuição de recursos federais. “Do montante do ano
passado, 50,5%, mais de R$ 80 milhões, foram destinados à Bahia, enquanto o
Rio ficou só com 0,6%, ou seja, R$ 1 milhão. São Paulo teve 5,6% e Minas
Gerais, 6,2%”. Ao contrário do Rio, a Bahia não é um Estado com histórico de
desastres ambientais tão frequentes como o Rio. Mas a diferença entre os
dois Estados é que o ministro responsável pela distribuição dos recursos,
Geddel Vieira Lima, é baiano e tinha como objetivo principal no ano passado
ser eleito governador do Estado que tanto privilegiou com a distribuição dos
recursos.

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*APOIO
A presidente Dilma
Rousseff e o governador Sérgio
Cabral visitam Nova Friburgo*

O resultado disso se vê em todas as esferas do poder público, que não
consegue responder a uma crise das proporções da região serrana fluminense.
Nos ineficientes e sucateados Institutos Médicos Legais das cidades
atingidas, o cheiro da morte se espalhava pelos corredores e pelo entorno
dos prédios. “Tenho que passar pomada com cheiro de menta no nariz para
poder trabalhar. O mau cheiro está insuportável”, disse um dos funcionários
responsáveis pelo transporte dos corpos em Nova Friburgo, que prefere não se
identificar. Até a manhã da sexta-feira 14, a cidade chorava inacreditáveis
216 mortos na tragédia. A todo momento, caminhões e caminhonetes chegavam
com corpos ao Instituto de Educação de Nova Friburgo, improvisado para
funcionar como Instituto Médico Legal. Dia e noite, a porta da instituição
ficava tomada por pessoas que buscavam saber se entre os mortos há algum
parente ou amigo. “Não saio daqui enquanto não souber notícia de minha avó”,
disse, ainda em estado de choque, a comerciária Regina Soares, 28 anos. Com
tantos cadáveres e condições precárias, o trabalho no local tem sido
sacrificante em Nova Friburgo e mostra que não há nenhuma preparação para
enfrentar problemas como esse. Nem mesmo um plano de contingência para lidar
com um número de mortos tão grande, algo que não é inédito por ali, parece
haver.

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Sem a resposta rápida e eficaz do poder público, a população se divide entre
um estado de absoluta catatonia e de desespero. No centro de Nova Friburgo,
famílias de várias classes sociais perambulavam nos dias que sucederam ao
desastre com bolsas e sacolas em punho, buscando refúgio. Uma delas era o
pedreiro Andrei Silva, 26 anos, cuja casa, localizada no bairro do Jardim
Califórnia, foi inundada pela chuva e ficou prestes a desabar. Ele deixou o
imóvel com sua mãe e duas irmãs. “Não sei para onde vou, mas para lá não
volto mais”, prometeu. Não longe dele, a advogada Lia Vieira caminhava com
os pés envoltos em sacolas de supermercado. “Perdi minha casa e meu carro no
desabamento”, contou. “Agora, o que eu quero é sair daqui.”

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[image: img7.jpg]

Ao menos nesse momento, o desejo de Lia é compartilhado por milhares de
famílias que perderam todos os seus bens e, principalmente, familiares.
Assim, como nesse momento, os governantes prometem resolver os problemas
emergenciais e criar condições para que tantas mortes não se repitam. Cabe
agora esperar, e cobrar, que elas não sejam carregadas pelas águas de março
que todos os anos fecham o verão.

[image: img11.jpg]

*Colaboraram: Adriana Prado e Luciani Gomes*

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