[Macronoroeste-campinas] Mercadante quer transformar Finep em BNDES para a ciência

PONTOS SP - Robson Sampaio reductio.ad.ethos em gmail.com
Sexta Janeiro 7 19:29:32 CET 2011


O Globo

Assunto: Patente/Avanço tecnológico
Título: Mercadante quer transformar Finep em BNDES para a ciência
Data: 06/01/2011
Crédito: Eliane Oliveira e Roberto Maltchik

Entre uma reunião e outra para fechar sua equipe, o novo ministro da Ciência
e
Tecnologia, Aloizio Mercadante (PT-SP), já traçou as linhas gerais de um
plano para
impulsionar o retorno de cientistas brasileiros que migraram para o exterior
e ainda
captar dinheiro para o financiamento de projetos de pesquisa e
desenvolvimento. Numa
rotina que, segundo ele, começa às 8h e termina às 23h, Mercadante quer
transformar a
Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), subordinada à sua pasta, numa
espécie de
BNDES para a ciência e revela que será criada uma agência só para regular e
fiscalizar
o programa nuclear do

Como resolver o déficit de profissionais especializados no país?

ALOIZIO MERCADANTE: O Brasil precisa avançar na universalização e na
qualidade
do ensino, do infantil à pós-graduação. Estamos formando 50 mil mestres e
doutores. O
Brasil é o 13º país em publicações especializadas. Na pesquisa básica,
estamos muito
bem e nosso grande desafio é a ciência aplicada à produção. Queremos
aumentar as
bolsas de estudo, com um olhar especial nas engenharias. Hoje, no Brasil, há
apenas um
engenheiro para 50 formandos. A Coreia do Sul forma um para cada quatro.

Como impedir que os talentos brasileiros fujam para o exterior?

MERCADANTE: Tivemos uma diáspora de cientistas nas décadas de hiperinflação
e
recessão, mas muitos querem voltar. Temos que abrir essa janela não só para
a volta
de talentos, mas para a atração de talentos do estrangeiro, por exemplo, do
Leste da
Europeu. É o momento de criar um comitê de busca de talentos.

Que atrativos o Brasil tem?

MERCADANTE: Oferecer boas instituições de pesquisa e, se precisar, um
enxoval
para ter casamento (risos). Só nos EUA, temos três mil brasileiros dando
aulas em
universidades. No momento em que as instituições começam a ter mais recursos
e mais
credibilidade, as pessoas querem voltar para o Brasil.

Há recursos financeiros suficientes para o país investir em inovação?

MERCADANTE: A nossa proposta é transformar a Finep numa instituição
financeira.
Temos uma demanda de mais de 170 mil pedidos de patentes e este ano devem
entrar
mais 30 mil. Aumentaram a produção acadêmica e o número de bolsas.

Na prática, o que significa a Finep se tornar um BNDES?

MERCADANTE: Passa a não depender apenas de recursos orçamentários e permite
que se alavanque recursos no mercado. Com mais capacidade de alavancagem, há
mais força para financiar a inovação. O Banco Central já tem um parecer
sobre o
assunto. Especialistas com quem conversamos avaliam que esse seria um passo
muito importante, com a Finep se consolidando como uma instituição de
fomento e
financiamento de recursos não reembolsáveis e reembolsáveis. Em 2010,
tivemos 2.500
empresas que demandaram financiamento da Finep.

Será criada uma agência reguladora específica para energia nuclear?

MERCADANTE: A ideia de uma agência está na pauta. A atividade de quem
fiscaliza
não pode ser a de quem pesquisa ou produz energia. A fiscalização tem que
ser muito

rigorosa. Inclusive, a área da fiscalização hoje, no meu ponto de vista, tem
que estar no
Gabinete de Segurança Institucional (GSI), subordinado à Presidência da
República.
Fiscalizar e proteger Angra 3 não é uma tarefa do MCT. É tarefa do GSI. A
agência tem
que ser autônoma como as demais para poder fiscalizar, regular, estabelecer
padrões e
exigências para atividades nucleares. O ministério faz pesquisa e
desenvolvimento.

Qual a sua posição sobre o desenvolvimento de armas nucleares?

MERCADANTE: O Brasil é uma área livre de artefatos (armas) nucleares, como
toda
a América do Sul. Nunca tivemos problemas. O domínio da energia nuclear é
colocado
na pauta nesse momento pelo efeito do aquecimento global. Estamos fazendo um
estudo
detalhado sobre resíduos atômicos, que precisam ser muito bem administrados.
Não há
qualquer movimento e não haverá neste ministério e neste governo que não
seja o uso
nuclear para fins pacíficos.

O governo já decidiu uma estratégia para prevenção de catástrofes?

MERCADANTE: Temos um supercomputador, o terceiro maior em meteorologia
do mundo. Vamos investir em radares para melhorar a capacidade de
regionalizar
a previsão. Temos 500 áreas de risco (encostas de morro, beiras de rio,
áreas com
histórico de tempestades). Há uma mudança no clima, uma alteração do ciclo
hidrológico, e o Brasil precisa ter uma política de prevenção às
precipitações e
enchentes.

A comunidade científica se queixa da burocracia. Como vencê-la?

MERCADANTE: Nas importações, por exemplo, os pesquisadores perdem muito
tempo. Precisamos conversar com a Anvisa e a Receita Federal para termos um
único aeroporto e um único porto para centralizar a logística. Seria muito
mais fácil o
desembaraço. Já tive uma conversa preliminar com o procurador-geral da
República,
Roberto Gurgel, com a CGU (Controladoria Geral da União) e com o TCU
(Tribunal
de Contas da União), para estabelecermos alguns procedimentos específicos
para a
área. Você não pode tratar a pesquisa científica e tecnológica nos mesmos
padrões com
que você trata uma obra. O Estado construir uma estrada não é a mesma coisa
de um
pesquisador fazer uma pesquisa.

Que parceiros internacionais são tidos como prioritários para cooperação em
ciência e tecnologia?

MERCADANTE: Pretendo dar mais ênfase à parceria entre os Brics (Brasil,
Rússia,
Índia e China). Temos uma identidade que foi construída, uma agenda
semelhante.
Claro que vamos buscar parcerias tecnológicas no âmbito do Mercosul, que é a
nossa
vocação imediata e estratégica. Também vamos olhar para a África, União
Europeia e
EUA.

O Brasil vai continuar investindo no Veículo Lançador de Satélites?

MERCADANTE: Sim.

O mesmo que está sendo desenvolvido há 20 anos ou um novo?

MERCADANTE: Isso eu respondo mais tarde. Primeiro, preciso fazer um
diagnóstico
do setor.

Como a ciência e a tecnologia podem ajudar o Brasil a se tornar um líder em
políticas ambientais?

MERCADANTE: O Brasil é o G-1 da biodiversidade e nós precisamos transformá-
la em inovação e tecnologia. Seja em fármacos, alimentos, enfim, em diversas
áreas.

Temos uma agenda para criar uma economia verde e criativa. Estamos avançando
no biocombustível, numa matriz energética limpa. O Brasil está na ponta de
alguns
segmentos da química verde. Queremos dar ênfase aos parques tecnológicos e
às
incubadoras de empresas com essa vocação.

Foi descoberto petróleo na camada do pré-sal. Como isso pode ser positivo em
termos de pesquisa e tecnologia?

MERCADANTE: O setor de gás e petróleo deve representar, em 2014, 14,7% dos
investimentos. Já conversei com a Marinha, a Petrobras e algumas empresas
privadas,
para fazermos o primeiro laboratório oceânico fixo em alto mar. Vamos ficar
no limite
da plataforma, pesquisando correntes oceânicas e a vida marinha.
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