[Macronoroeste-campinas] Para desmoralizar Dilma, Folha de S. Paulo dá voz a espião da Ditadura

PONTOS SP - Robson Sampaio reductio.ad.ethos em gmail.com
Segunda Setembro 13 16:25:48 CEST 2010


<http://2.bp.blogspot.com/_8nGlV2FuxVA/TI4MUjIb32I/AAAAAAAACI4/MeyUHlnEhUw/s1600/folha.jpg>A
safadeza da mídia na cobertura das eleições presidenciais é vergonhosa e
passou dos limites. Hoje, sou um homem constrangido por ser jornalista. E
duvido que qualquer profissional ético não se sinta assim diante da
enxurrada de matérias levianas ou capciosas veiculadas quase que diariamente
nos jornalões, principalmente na Folha de S. Paulo. A cara-de-pau é tanta
que até o ombudsman do jornal tem vindo a público criticar a
parcialidade<http://noticias.r7.com/eleicoes-2010/noticias/ombudsman-da-folha-de-s-paulo-acusa-jornal-de-ser-parcial-na-cobertura-eleitoral-20100912.html>do
veículo.
.
Ontem, a Folha se superou: na tentativa de criar uma imagem assustadora da
candidata do PT, Dilma Rousseff, deu voz a um ex-coronel da Brigada Militar,
que teria sido o encarregado de espioná-la durante a ditadura. Lamentável
que um homem sem qualquer autoridade moral seja tratado com deferência por
jornalistas e ganhe espaço na imprensa para dar palpites sobre a
personalidade de uma mulher que lutou contra o regime sanguinário que ele
defendia.
.
Num determinado momento da reportagem diz o espiãozinho Sílvio Carriço
Ribeiro sobre Dilma: “Pessoas desse tipo são duras, amargas. Ela é uma
mulher amarga. Não é aquilo que está aparecendo na televisão. É lobo em pele
de cordeiro. Lula vai se enganar com ela”.
.
Brizola Neto, em seu Tijolaço <http://www.tijolaco.com/>, lembrou muito bem:
desde quando araponga, espião, torturador, agente da repressão tem o direito
de fazer análises psicológicas sobre quem quer que seja? Ao que sabemos, as
únicas técnicas de “psicologia” usadas por eles eram “bordoadas, choques
elétricos, chicotadas, sufocamento e outras barbaridades”.
.
Engraçado: eles legitimam as palavras de um canalha da ditadura e nós somos
os radicais quando usamos o termo Partido da Imprensa Golpista (PIG) para
definí-los. Se estão do lado de torturadores e agentes da ditadura, o que
são então?
.
A matéria, para quem tiver assinatura da Folha e estômago para ler, está
aqui <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po1209201041.htm>.
.
Leiam também o ótimo texto da companheira Flávia, publicado no site Cultura
e Barbárie<http://www.culturaebarbarie.org/mundoabrigo/2010/09/de-volta-sobre-o-espiao-de-dil.html>com
o título Sobre o espião de Dilma, que reproduzo abaixo:
.
*Há dias tenho pensando em voltar. Tinha jurado para mim mesma que não
escreveria sobre política. **Mas o que posso fazer diante de uma matéria
repulsiva que tenta, pela milésima vez, banalizar a ditadura brasileira e
colocar no mesmo patamar torturadores e
torturados*<http://www.linearclipping.com.br/fecomerciodf/detalhe_noticia.asp?cd_sistema=7&codnot=1308521>
*?

Mas não vou falar aqui do vínculo da Folha com a Ditadura no passado. Vou
falar do vínculo da Folha com a Ditadura no presente; sobre a perpetuação da
barbárie promovida por um jornal e pelos seus jornalistas; sobre esse
absurdo de matéria publicada com o espião da Dilma, que leva esse mesmo
nome, sem pudor nem respeito: "Espião de Dilma". A Folha largou mão dos
eufemismos e imprime em suas páginas, com visível comoção dos que fizeram a
matéria, a naturalização do horror.

E tudo começa com a comparação mais esdrúxula que já li na minha vida:

"Filha de imigrante, líder de grupos de resistência à ditadura, ministra e
candidata a presidente, Dilma Rousseff pode dizer que foi longe."

"Não se pode dizer o mesmo de Sílvio Carriço Ribeiro, 69, ex-agente da
chamada 'comunidade de informações' na ditadura (1964-1985) e ex-coronel da
Brigada Militar: continua morando perto da casa em que Dilma viveu, na Vila
Assunção, na zona sul de Porto Alegre, região onde mantinha campana para
investigar a 'subversiva'."

Não, não se pode, e nem jamais poderia, dizer o mesmo do espião da ditadura.
Não se pode dizer o mesmo de uma pessoa cuja crítica máxima que consegue
fazer de Dilma Rousseff, e que ganha os negritos do resumo da matéria, é que
ela "nasceu para mandar, não para ser mandada" e que alimenta a mesma
angústia da Folha: "Lula vai se enganar com ela".

A perversão é tanta que conseguem intitular a segunda parte da matéria como
"Lobo", referindo-se a super-elaborada impressão do espião da ditadura de
que Dilma não passa de um "lobo em pele de cordeiro". O ex-coronel,
refere-se a Folha ao espião (porque é preciso manter a autoridade e o
respeito com seus ex-chefes), afirma com todo o seu histórico de ter mandado
para a prisão e tortura sabe-se lá quantos, que pessoas como Dilma são
amargas e duras. Sim, ex-coronel, amarga e dura como era a realidade da qual
o senhor foi cúmplice e que até hoje defende.

A falta de qualquer sensibilidade da Folha que endossa uma opinião dessas é
indescritível (sem contar o episódio, que é de conhecimento de todos, da
Ditabranda). Tudo bem que a Folha queira parar a Dilma, é legítimo que um
jornal se oponha. Não é legítimo que ele invente coisas, mas disso ainda
podemos fazer piada como o achincalhamento realizado com o **
#dilmafactsbyfolha* <http://twitter.com/#search?q=dilmafactsbyfolha>* no
twitter (que Idelber arremata
**aqui*<http://www.idelberavelar.com/archives/2010/09/dilmafactsbyfolha_cronica_da_desmoralizacao_de_um_jornal.php>
*). Mas com a ditadura, só a Folha consegue fazer piada. Nesse sentido, a
Folha será, para sempre, insuperável. E, infelizmente, o jornal do futuro,
como ela se anuncia porque não dá para imaginar outro futuro para o Brasil
enquanto a ditadura não for revista.

É imperdoável que a Lei da Anistia não tenha sido revista (e, para maior
desespero, Serra, Marina e Dilma foram contra a revisão). O mínimo que se
ganharia com isso seria coibir e levar ao mais alto constrangimento uma
matéria como essa do "Espião da Dilma". Como isso não acontece (porque "todo
mundo é igual", porque todos foram anistiados) abre-se espaço para a Folha
igualar o inigualável: colocar mais de 20 anos depois do fim da Ditadura, a
opinião de um espião como fonte de revelações sobre a personalidade da
candidata a presidência que foi presa e torturada pelo regime. É o cúmulo do
absurdo, mas é a violência mais atroz que se pode cometer.

E, na verdade, eu nem precisaria escrever esse post, porque a banalização do
mal está nas palavras do espião publicadas na Folha como última tentativa de
nomear Dilma como terrorista: "atual candidata a presidente nega que tenha
atuado diretamente nessas ações, mas são correntes afirmações de que ela
tinha conhecimento, ordenou ou planejou várias delas. 'Você determinar ou
saber quem fez uma coisa dessas não diminui sua responsabilidade. A
responsabilidade é até maior', declara Ribeiro." Ninguém precisa ter lido
Hannah Arendt para entender o que esse monstrinho está falando. Enquanto
essa afirmação deveria ser anunciada com todos os auto-falantes do mundo na
orelha do espião, na orelha dessa corja da Folha, e de todos aqueles que
torturaram, espionaram, mataram, é ele, o ex-coronel espião da Dilma, quem
fala com a voz soberana de quem detém a verdade, responsabilizando os outros
enquanto deveria ser responsabilizado.

Terão os que pensam que bater na Folha é chutar cachorro morto. Pode ser
mesmo. Mas eu, na minha singela insignificância, não queria deixar de
revidar o chute no estômago que levei hoje ao ler essa matéria. Eu nasci
quando a ditadura já se desfazia, mas fico "dura e amarga" quando evocam o
período banalizando a barbárie, naturalizando os crimes cometidos, querendo
nos submeter a esse horror que sempre retorna com esse jornal desprezível,
mas ativo e lido no Brasil, que é a Folha de S. Paulo.

Para terminar, um desvio: a psicanálise diz que é sempre o analisando que dá
a resposta. Pois foi isso que encontrei nessa sintomática **retomada de
"filme premiado em nova campanha na TV" na própria
Folha*<http://www1.folha.uol.com.br/poder/797052-folha-retoma-filme-premiado-em-nova-campanha-na-tv.shtml>
*. Deixo-lhes com ele e com a frase que se encaixa à prática dessa merda de
jornal: "É possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade". Não
existe melhor definição para essa matéria: a perpetuação do passado mais
sombrio com o sorriso safado e perverso de quem constrói o presente.*


-- 
Robson Bomfim***

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