[Macronoroeste-campinas] O MIS e o Palácio dos Azulejos

PONTOS SP - Robson Sampaio reductio.ad.ethos em gmail.com
Terça Agosto 31 00:47:35 CEST 2010


Descanso e politica conservadora em Campinas, pelo Prefeito e secretaria de
cultura...


*O MIS e o Palácio dos Azulejos*



Para além das querelas intestinas deste partido, estamos diante de mais uma
medida arbitrária do Governo Hélio no campo das políticas culturais. Não é o
umbigo do partido, perdido num passado remoto: é uma instituição de memória
com 35 anos de idade e que há seis anos ocupa um imóvel tombado pelos
Conselhos do Patrimônio Histórico, em suas instâncias municipal, estadual e
federal. O processo municipal de destinação do Palácio dos Azulejos para
abrigo do Museu da Imagem e do Som de Campinas, não foi uma decisão
apressada de final do nosso governo – como nos faz crer  o texto do Ari -  mas
um processo que envolveu todo o planejamento do restauro, coordenado pela
pessoa que o Toninho indicou para ser o responsável pelo processo de
revitalização do centro da cidade, o Prof. Marco do Valle. Aliás, a
proposição de instalação do Museu no Palácio é anterior ao nosso governo,
tendo sido iniciado ainda no governo do Chico Amaral algumas obras que
visavam a implementação de uma sala de projeção de cinema na parte térrea do
anexo que permanece inacabada até hoje.

Para além de todos os projetos que se apresentaram para o Palácio, o que lá
está instalado significou investimento público nacional, com financiamento
da Petrobrás, e investimento político-cultural de longo prazo com a
construção de um Museu de fato, ativo em sua comunidade, e não um depósito
de acervos. Cabe lembrar que o processo de revitalização do Centro da cidade
envolveu ainda a reconfiguração do Calçadão da 13 de Maio,  a ocupação da
Estação, a remodelação do camelódromo do Terminal Central e a retomada do
Palácio do Palácio da Mogiana. Tal conjunto de ações foi respaldado pelas
entidades representativas do comércio (ACIC, CDL e Associações de Camelôs).
A captação de recursos para o restauro do Palácio foi encaminhada pelo CDL e
gerenciada pelo mesmo. O restauro do Prédio ficou incompleto, restando
inconclusa a parte de trás do andar térreo e o restauro dos afrescos do
andar superior.

A instalação do MIS no Palácio dos Azulejos foi um ato que envolveu a Câmara
dos Vereadores, pois foi medida transformada em Lei Municipal, para que
quaisquer intenção de despejá-lo, obrigasse a uma discussão mais ampla sobre
as políticas culturais. O Museu, depois de ali instalado, teve sua equipe
redimensionada para dar conta de publicizar seus acervos e de atender as
demandas que se encontraram reprimidas ao longo de seus quase 30 anos de
vida nômade. Quem quiser se informar das atividades públicas que o Museu da
Imagem e do Som desenvolve, basta consultar suas páginas na internet, quer a
vinculada ao Portal Municipal, menos informada pois seus editores não
acompanham a dinâmica do Museu, quer as desenvolvidas pela equipe do Museu
ou por seus aficcionados.

Nestes seis anos de estabilidade em sua sede, o Museu cresceu, ganhou
projeção nacional e internacional, desenvolveu políticas de captação e de
produção de acervos, implementou atividades de divulgação de seus acervos e
tornou-se um centro de formação no trato das linguagens que lhe são
próprias, abrigando iniciativas de parceiros, como o Núcleo de Animação de
Campinas, o Coletivo de Educadores Populares, a Revista Negativo On Line, o
Instituto dos Cegos de Campinas, ou de instituindo o programa Pedagogia da
Imagem, de ação educativa, auferido com o Prêmio Darcy Ribeiro, em 2009,
pelo Ministério da Cultura.

Isso tudo se realizou sem que a administração municipal fizesse qualquer
gestão para que as dinâmicas se estabelecessem; pelo contrário, as ações
administrativas da Gestão Municipal que principiou em 2005 se iniciou com a
proibição das sessões de exibição de filmes de arte, sob equivocada alegação
de que elas não recolhiam taxas de direito autoral (as sessões sempre foram
de caráter educativo e gratuítas); em 2006 aconteceu um processo de
intervenção da administração no Museu, que redundou no afastamento de
funcionários qualificados (uma historiadora e uma museóloga) e de sua
coordenadora, sem maiores justificativas, tendo sido indicado para assumir
as responsabilidades da instituição uma pessoa sem qualquer domínio do
expediente museológico e sem conhecimento das ações consolidadas no Museu;
manteve-se o patrimônio museológico sem recursos disponíveis para sua
manutenção e como medida radical da importância que atribui ao Patrimônio
Histórico Restaurado, passou-se a permitir que suas cercanias se transformem
em depósito de lixo reciclado a todo final de tarde: na ausência de um
logradouro apropriado para acumulação do lixo recolhido no centro da cidade,
os catadores depositam nas calçadas da Palácio dos Azulejos seu monturo
diário. Os usuários das atividades vespertinas do Museu que se locupletem
com a paisagem e com a tortuosidade do itinerário exíguo.

A estruturação dos projetos que se desenvolvem no MIS se devem à sua equipe,
que foi se especializando ao longo dos anos e a seus parceiros que suprem o
Museu com o debate cultural que não vemos acontecer em outros espaços.

A intenção do Prefeito Municipal não encontra abrigo em nenhuma das
proposições que tem sido objeto de polêmica ao longo desses últimos anos no
meio cultural, quer nos debates do Conselho Municipal de Cultura, quer no
Fórum Municipal de Cultura, quer na Conferência Municipal de Cultura,
realizada ne final do ano de 2009. A proposição se apresenta, no entanto,
como mais um dos capítulos do atropelo que as políticas e instituições
culturais que o Prefeito foi eleito para administrar, mas que se abstem de
tomar medidas cabíveis: o fechamento do Museu Dinâmico de Ciências e do
Museu do Café, o esvaziamento da Estação Cultura e do Centro de Convivência,
a precarização da Biblioteca Monteiro Lobato, a interminável reforma do
Teatro Castro Mendes, fechado há já quatro anos, o desmonte da EMCEA (Escola
Municipal de Cultura e Arte) e o esvaziamento da oferta de cursos e oficinas
de educação artística e cultural.

A proposição de fazer uma salada museológica na Estação Cultura é
representativa do emaranhado de arbitrariedades que vão compondo o cenário
cultural de uma Secretaria que em grande parte de sua existência funcionou
integrada com as áreas de Esportes e Turismo, e que destes foi extirpada ao
longo do mandato 2005-2008, e posteriormente mutilada com a retirada da
produção dos grandes eventos culturais de sua Coordenadoria de Ação
Cultural, tornados expediente do setor de marketing do governo. O modelo que
talvez se queira implementar para a política museológica municipal, deve
estar naquilo que foi implementado como Centro Campineiro de Memória
Afro-Brasileira,
no Palácio da Mogiana: uma instituição sem projeto, sem acervo, sem
parceiros e sem equipe gestora.

Quanto aos comentários do Excelentíssimo Senhor Presidente desse nosso
combalido partido, só tenho a dizer que as impressões que eu externei na
reunião do Diretório Municipal de março passado se acentuaram: - Quanta
servidão! E, pasmem, totalmente voluntária!

O Brasil possui mais de trinta Museus de Imagem e Som; de quais o Ari
estaria falando?

Os primeiros MIS foram criados, no Brasil, no período da ditadura, mas não
por obra e graça dela e nem daqueles que a ela resistiram; os MIS são
criados nessa época, pois é aí que a produção audio visual ganha contornos
culturais relevantes, enquando prática que se disseminava pela sociedade.

A preocupação com a memória histórica e cultural tem relação direta com as
ações dos grupos de poder constituídos na sociedade, de cujos interesses se
declinam os campos documentais que são priorizados para preservação. Toda
instituição de preservação de memória possui políticas de restrição de
acesso a seus acervos, quer por perigo de deterioração do material sob
guarda, quer por restrição estabelecida por seus doadores.

Às instituições museológicas que prezam o caráter público das informações
que estão sob sua guarda, desenvolvem atividades de publicação de seu
material, quer na forma de livros, ou como no caso dos MIS, na forma de
exposições e edições audio-visuais, com o intuito de democratizar o acesso
às suas fontes, e tornar a memória social um elemento ativo da sociedade em
que está inserido.

Quanto à confusão entre cultura popular e cultura de resistência política,
temo não ser aqui o local para tratar desses equívocos. O Brasil ainda deve
à sua população uma maior atenção aos produtos de sua cultura popular. A
política do governo Lula de investimento nos Pontos de Cultura talvez tenha
sido um primeiro passo no sentido de desfazer a confusão entre cultura
popular e folclore.

Espero ter contribuido para o entendimento dos impasses em torno dos
devaneios do Prefeito Municipal com relação ao Palácio dos Azulejos.

Que os projetos sejam elaborados e trazidos a público para que a sociedade
possa ter visibilidade daquilo que se trama nos espaços exíguos do poder
municipal.

Saudações culturais e democráticas,



*Batata*

-- 
-- 
Robson Bomfim***

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