[Macronoroeste-campinas] artigo Emir Sader.

Robson Sampaio reductio.ad.ethos em gmail.com
Segunda Janeiro 11 14:40:57 CET 2010


Ola pessoal um bom artigo de Emir Sader para poderemos refletir a conjuntura
atual

   Perón, Getúlio, Lula

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   * Quando acusou Lula de uma espécie de neoperonista, FHC vestia, em
cheio, o traje da direita oligárquica latinoamericana. Que não perdoou e
segue sem perdoar os líderes populares latinoamericanos que lhes arrebataram
o Estado de suas mãos e impuseram lideranças nacionais com amplo apoio
popular. Artigo de Emir Sader, originalmente publicado no sítio da Agência
Carta Maior. *

*Emir Sader*

Os três – Perón, Getúlio e Lula – têm em comum a personificação de projetos
nacionais, articulados em torno do Estado, com ideologia nacional,
desenvolvendo o mercado interno de consumo popular, as empresas estatais,
realizando políticas sociais de reconhecimento de direitos básicos da massa
da população, fortalecendo o peso dos países que governaram ou governam no
cenário internacional.

Foi o suficiente para que se tornassem os diabos para as oligarquias
tradicionais – brancas, ligadas aos grandes monopólios privados familiares
da mídia, aos setores exportadores, discriminando o povo e excluindo-o dos
benefícios das políticas estatais. Apesar das políticas de desenvolvimento
econômico, especialmente industrial, foram atacados e criminalizados como se
tivessem instaurados regimes anticapitalistas, contra os interesse do grande
capital. Quando até mesmo os interesses dos grandes proprietários rurais –
nos governos dos três líderes mencionados – foram contemplados de maneira
significativa.

Perón e Getúlio dirigiram a construção dos Estados nacionais dos nossos dois
países, como reações à crise dos modelos primário-exportadores. Fizeram-no,
diante da ausência de forças políticas que os assumissem – seja da direita
tradicional, seja da esquerda tradicional. Eles compreenderam o caráter do
período que viviam, se valeram do refluxo das economias centrais, pelos
efeitos da crise de 1929, posteriormente pela concentração de suas economías
na II Guerra Mundial, tempo estendido pela guerra da Coréia.

A colocação em prática das chamadas políticas de substituição de importações
permitiram a nossos países dar os saltos até aqui mais importantes de nossas
histórias, desenvolvendo o mais longo e profundo ciclo expansivo das nossas
economias, paralelamente ao mais extenso processo de conquistas de direitos
por parte da massa da população, particularmente os trabalhadores urbanos.

Se tornaram os objetos privilegiados do ódio da direita local, dos seus
órgãos de imprensa e dos governos imperiais dos EUA. Dos jornais
oligárquicos – La Nación, La Prensa, La Razón, na Argentina, ao que se somou
depois o Clarin; o Estadao, O Globo, no Brasil, a que se somaram depois os
ódios da FSP e da Editora Abril. Os documentos do Senado dos EUA confirmam
as articulações entre esses órgãos da imprensa, as FFAA, os partidos
tradicionais e o governo dos EUA nas tentativas de golpe, que percorreram
todos os governos de Perón e de Getúlio.

Não por acaso bastou terminar aquele longo parêntese da crise de 1929,
passando pela Segunda Guerra e pela guerra da Coréia, com o retorno maciço
dos investimentos estrangeiros – particularmente norteamericanos, com a
indústria automobilística em primeiro lugar -, para que fossem derrubados
Getúlio, em 1954, e Perón, em 1955.

Mas os fantasmas continuaram a assombrar os oligarcas brancos, que sentiam
que aqueles líderes plebeus – tinham desprezo pelos líderes militares, que
deveriam, na opinião deles, limitar-se à repressão dos movimentos populares
e aos golpes que lhes reestabeleceriam o poder – lhes tinham roubado o
Estado e, de alguma forma, o Brasil.

O golpe militar argentino de 1955 inaugurou a expressão “gorila” para
designar o que mais tarde o ditador brasileiro Costa e Silva chamaria, de
“vacas fardadas”. A direita apelava aos quartéis, porque não conseguia
ganhar eleições dos líderes populares. Durante os anos 50, no Brasil,
fizeram articulações golpistas o tempo todo contra Getúlio, até que o
levaram ao suicídio. Tentaram impedir a posse de JK, alegando que tinha
ganho as eleições de maneira fraudulenta. JK teve que enfrentar duas
tentativas de levantes militares de setores da Aeronáutica contra seu
governo, legitimamente eleito, tentativas sempre apoiadas pela oposição da
época, em conivência com os governos dos EUA.

O peronismo esteve proscrito políticamente de 1955 a 1973. Até o nome de
Perón era proibido de ser mencionado na imprensa. (Os opositores usavam Juan
para designá-lo ou alguns de seus apelidos.) Quando foram feitas eleições
com um candidato peronista concorrendo – Hector Campora -, ele triunfou
amplamente e – ao contrário de Sarney no Brasil – convocou novas eleições,
triunfando Perón, que governou um ano, até que foi dado o golpe de 1976,
pelas mesmas forças gorilas.

No Brasil, o governo João Goulart foi vítima do mesmo tipo de campanha
lacerdista, golpista, articulada com organismos da “sociedade civil”
financiados pelos EUA, articulados com a imprensa privada, convocando as
FFAA para um golpe, que acabou sendo dado em 1964.

Perón, Getúlio e, agora, Lula, tem em comum a liderança popular, projetos de
desenolvimento nacional, políticas de redistribuição de renda, papel central
do Estado, apoio popular, discurso popular. E o ódio da direita. Que usou
todos os “palavrões”: populista, carismático, autoritário, líder dos
”cabecitas negras”, dos “descamisados” (na Argentina). A classe média e o
grande empresariado da capital argentina, assim como a classe média (de São
Paulo e de Minas, especialmente) e o grande empresariado, sempre a imprensa
das rançosas famílias donas de jornais, rádios e televisões.

É o ódio de classe a tudo o que é popular, a tudo o que é nacional, a tudo o
que cheira povo, mobilizações populares, sindicatos, movimentos populares,
direitos sociais, distribuição de renda, nação, nacional, soberania. FHC se
faz herdeiro do que há de mais retrógado na direita latinoamericana – da UDN
de Lacerda, passando pelos gorilas do golpe argentino de 1955, pelos
golpistas brasileiros de 1964, pelo anti-peronismo e o anti-getulismo, que
agora desemboca no anti-lulismo. Ao chamar Lula de neo-peronista, quer usar
a o termo como um palavrão, como acontece no vocabulário gorila, mas veste
definitivamente a roupa da oligarquia latinoamericana, decrépita, odiosa,
antinacional, antipopular. Um fim político coerente com seu governo e com
seus amigos aliados.


 Robson Bomfim
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