[Solar-general] Re: [Solar-ovejafm] : Hermeto Pascoal libera toda
su obra
marcos
marcos en ovejafm.com
Lun Abr 13 00:45:10 CEST 2009
El Martes, 7 de Abril de 2009 21:21, Martín Olivera escribió:
> 2009/4/7 Fabianne Balvedi <balvedi en gmail.com>
>
> > ---------- Forwarded message ----------
> > From: Adriano Belisário
> > To: submidialogia en lists.riseup.net
> >
> >
> > Hermeto Pascoal tem 72 anos e não passa mais de 24 horas sem rabiscar
> > novas combinações de notas musicais e símbolos de percussão em pilhas de
> > partituras. A única diferença para os tempos de criança é o papel. Na
> > Alagoas dos anos 30, o pequeno Hermeto já compunha todo dia, em rios,
> > árvores, na companhia dos passarinhos. Curiosamente, porém, o “Beethoven
> > do século 20” (como o define o acordeonista Sivuca) nunca volta para
> > rever as tais notas escritas. “Minhas músicas são pétalas soltas, estão
> > voando por aí.”
> >
> > E, assim, Hermeto deixou suas pétalas ao vento. Desde novembro, abriu mão
> > das licenças pela internet e liberou para uso de qualquer músico todas as
> > composições registradas em seu nome. Nesta semana, promete disponibilizar
> > parte da imensa e riquíssima discografia (são 34 álbuns) para download
> > gratuito, num processo que chegará em alguns meses à totalidade da
> > produção formal.
> >
> > Internet é um assunto até certo ponto desconhecido para Hermeto. Foi a
> > parceira musical, espiritual e amorosa Aline Morena a fonte de influência
> > digital do compositor. Quando começaram a namorar, em 2002, ela não se
> > conformava que um artista do porte de Hermeto (referência internacional,
> > inovador, vanguardista) não tivesse sequer um site próprio. Na lista de
> > “desleixos” estava também a desorganização dos registros de músicas (que
> > fez com que ele nunca ganhasse dinheiro com vendas de discos e CDs – só
> > com shows).
> >
> > Aline resolveu o problema da comunicação e criou quatro sites, um para
> > cada tipo de apresentação de Hermeto (com a Big Band, o Grupo, orquestras
> > sinfônicas e para o duo com ela) e plantou na cabeça genial do compositor
> > algumas sementes de cultura livre. Seria difícil o conceito não germinar.
> > Em 1973, o visionário alagoano já batizava um álbum de A Música Livre de
> > Hermeto Pascoal.
> >
> > A ideia de liberdade já estava desde então algo relacionada com a
> > disseminação, a distribuição, a pulverização das composições. Um jargão
> > famoso de Hermeto é a frase “tudo é música”. Se qualquer um faz música
> > com qualquer coisa (objetos, plantas, voz, etc.) – e portanto as músicas
> > dele são livres por natureza –, temos uma espécie de música de “código
> > aberto”, colaborativa, termos comuns para leitores do noticiário de
> > tecnologia e que desapareceram da música comercial antes do MP3.
> >
> > Isso tanto é transformador que a música livre evoluiu para o que hoje a
> > dupla Hermeto Pascoal e Aline Morena chama de “música universal”. Nada a
> > ver com a “world music” disseminada por aí, e que significa apenas a
> > forma de as culturas dominantes globais aceitarem regionalismos como o
> > brasileiro e o indiano, por exemplo. Música universal não é isso. É o que
> > há de universal, primordial, anterior e essencial na música.
> >
> > Hermeto e Aline não usam idiomas conhecidos para compor canções sob o
> > estigma universal. É uma letra formada por palavras inventadas sob uma
> > lógica própria, não necessariamente com significados. É a busca da dupla
> > pela sonoridade, por fonemas que provocam sensações – cuja liberdade
> > também inclui a de interpretação. Assim, a composição da música universal
> > só termina no momento em que ressoa nos tímpanos.
> >
> > Essa abordagem “alinguística” também faz parte das pesquisas mais
> > avançadas hoje em artes cênicas. O diretor inglês Peter Brook chegou a
> > algo parecido à música universal de Hermeto com o teatro rústico, nos
> > anos 1970. Brook e os atores de diversas nacionalidades do Centre
> > International de Recherche Théâ-trale (Cirt) parisiense passaram três
> > meses de 1974 em tribos africanas para entender o que havia no teatro que
> > se comunicava com qualquer cultura (gestos, sons, expressões, ritmos). A
> > pesquisa fez avançar as descobertas contemporâneas de linguagem –
> > equivalente ao que o brasileiro Hermeto fez na música.
> >
> > A última criação organizada do compositor foi Chimarrão com Rapadura, CD
> > e DVD de 2006 em dupla com Aline Morena. Imagine a dificuldade de
> > selecionar 19 canções e melodias entre as centenas criadas diariamente.
> > Nesse álbum, Hermeto toca cavaco, pandeiro, surdo, escaleta, piano com
> > fita crepe, caixa, zabumba, triângulo, baixo, flauta doce, viola caipira,
> > fole, flauta-baixo, percussão com teclas, flugelhorn, iefone, brinquedos,
> > balde, garfo, faca, trumpetinho, chavozeleira, piano, porta, copos de
> > plástico e mangueira. O detalhe é que nem tudo é instrumento.
> >
> > Apesar da variedade de artefatos sonoros, Hermeto Pascoal não se encantou
> > ainda pelos sons fabricados. Não há quase nada sintético na obra que já
> > dura 53 anos, mesmo com a invasão de aparelhos eletrônicos dos últimos
> > 30. “Nada contra esse tipo de música. Mas, para mim, os sons devem ser
> > naturais. Têm mais sabor.”
> >
> > Nascido na roça alagoana, ele morou mais de 20 anos em São Paulo, gravou
> > nos Estados Unidos com Miles Davis, influenciou Beatles com o Quarteto
> > Novo, é festejado por onde passa no mundo. Prega a música aberta. Hoje
> > mora em Curitiba e nunca deixou de fugir do sol. A pele albina sofre, os
> > olhos também. É só o que há de hermético em Hermeto Pascoal.
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> > http://www.link.estadao.com.br/index.cfm?id_conteudo=15545
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Marcos Germán Guglielmetti
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