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<a name="digest_top">Resumo do tópico de hoje</a></div>
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<ul>
<li><a href="#group_thread_0">Boaventura de Sousa Santos: Carta às esquerdas</a> [1 atualização]</li>
</ul>
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> Tópico: <a target="_blank" href="http://groups.google.com/group/eurecacampinas/t/e36b2c97fad9d6ce"
>Boaventura de Sousa Santos: Carta às esquerdas</a></div>
<ul>
<span style="color: ; font-weight: bold">PONTOS SP - Robson Sampaio <reductio.ad.ethos@gmail.com></span> Sep 09 12:45AM -0300
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24/08/2011 | Copyleft *<br />
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DEBATE ABERTO*<br />
Carta às esquerdas *Livre das esquerdas, o capitalismo voltou a mostrar a<br />
sua vocação anti-social. Voltou a ser urgente reconstruir as esquerdas para<br />
evitar a barbárie. Como recomeçar? Pela aceitação de algumas ideias. A<br />
defesa da democracia de alta intensidade é a grande bandeira das esquerdas.*<br />
* Boaventura de Sousa Santos*<br />
<br />
Não ponho em causa que haja um futuro para as esquerdas mas o seu futuro não<br />
vai ser uma continuação linear do seu passado. Definir o que têm em comum<br />
equivale a responder à pergunta: o que é a esquerda? A esquerda é um<br />
conjunto de posições políticas que partilham o ideal de que os humanos têm<br />
todos o mesmo valor, e são o valor mais alto. Esse ideal é posto em causa<br />
sempre que há relações sociais de poder desigual, isto é, de dominação.<br />
Neste caso, alguns indivíduos ou grupos satisfazem algumas das suas<br />
necessidades, transformando outros indivíduos ou grupos em meios para os<br />
seus fins. O capitalismo não é a única fonte de dominação mas é uma fonte<br />
importante.<br />
<br />
Os diferentes entendimentos deste ideal levaram a diferentes clivagens. As<br />
principais resultaram de respostas opostas às seguintes perguntas. Poderá o<br />
capitalismo ser reformado de modo a melhorar a sorte dos dominados, ou tal<br />
só é possível para além do capitalismo? A luta social deve ser conduzida por<br />
uma classe (a classe operária) ou por diferentes classes ou grupos sociais?<br />
Deve ser conduzida dentro das instituições democráticas ou fora delas? O<br />
Estado é, ele próprio, uma relação de dominação, ou pode ser mobilizado para<br />
combater as relações de dominação?<br />
<br />
As respostas opostas as estas perguntas estiveram na origem de violentas<br />
clivagens. Em nome da esquerda cometeram-se atrocidades contra a esquerda;<br />
mas, no seu conjunto, as esquerdas dominaram o século XX (apesar do nazismo,<br />
do fascismo e do colonialismo) e o mundo tornou-se mais livre e mais igual<br />
graças a elas. Este curto século de todas as esquerdas terminou com a queda<br />
do Muro de Berlim. Os últimos trinta anos foram, por um lado, uma gestão de<br />
ruínas e de inércias e, por outro, a emergência de novas lutas contra a<br />
dominação, com outros atores e linguagens que as esquerdas não puderam<br />
entender.<br />
<br />
Entretanto, livre das esquerdas, o capitalismo voltou a mostrar a sua<br />
vocação anti- social. Voltou a ser urgente reconstruir as esquerdas para<br />
evitar a barbárie. Como recomeçar? Pela aceitação das seguintes ideias.<br />
<br />
Primeiro, o mundo diversificou-se e a diversidade instalou-se no interior de<br />
cada país. A compreensão do mundo é muito mais ampla que a compreensão<br />
ocidental do mundo; não há internacionalismo sem interculturalismo.<br />
<br />
Segundo, o capitalismo concebe a democracia como um instrumento de<br />
acumulação; se for preciso, ele a reduz à irrelevância e, se encontrar outro<br />
instrumento mais eficiente, dispensa-a (o caso da China). A defesa da<br />
democracia de alta intensidade é a grande bandeira das esquerdas.<br />
<br />
Terceiro, o capitalismo é amoral e não entende o conceito de dignidade<br />
humana; a defesa desta é uma luta contra o capitalismo e nunca com o<br />
capitalismo (no capitalismo, mesmo as esmolas só existem como relações<br />
públicas).<br />
<br />
Quarto, a experiência do mundo mostra que há imensas realidades não<br />
capitalistas, guiadas pela reciprocidade e pelo cooperativismo, à espera de<br />
serem valorizadas como o futuro dentro do presente.<br />
<br />
Quinto, o século passado revelou que a relação dos humanos com a natureza é<br />
uma relação de dominação contra a qual há que lutar; o crescimento económico<br />
não é infinito.<br />
<br />
Sexto, a propriedade privada só é um bem social se for uma entre várias<br />
formas de propriedade e se todas forem protegidas; há bens comuns da<br />
humanidade (como a água e o ar).<br />
<br />
Sétimo, o curto século das esquerdas foi suficiente para criar um espírito<br />
igualitário entre os humanos que sobressai em todos os inquéritos; este é um<br />
patrimônio das esquerdas que estas têm vindo a dilapidar.<br />
<br />
Oitavo, o capitalismo precisa de outras formas de dominação para florescer,<br />
do racismo ao sexismo e à guerra e todas devem ser combatidas.<br />
<br />
Nono, o Estado é um animal estranho, meio anjo meio monstro, mas, sem ele,<br />
muitos outros monstros andariam à solta, insaciáveis à cata de anjos<br />
indefesos. Melhor Estado, sempre; menos Estado, nunca.<br />
<br />
Com estas ideias, vão continuar a ser várias as esquerdas, mas já não é<br />
provável que se matem umas às outras e é possível que se unam para travar a<br />
barbárie que se aproxima.<br />
<br />
*Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade<br />
de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).*<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
-- <br />
Robson Bomfim***<br />
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