[Macronoroeste-campinas] Fwd: [CqQ-132] Quem tem lugar nas cidades?

Isabel Silva Barbosa belbarbosa.95 em gmail.com
Quarta Março 12 22:45:17 CET 2014


---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Jose Furtado <josefurtado em campinasquequeremos.org>
Data: 12 de março de 2014 00:01
Assunto: [CqQ-132] Quem tem lugar nas cidades?
Para: Grupo CqQ <campinasquequeremos em googlegroups.com>, Barao Geral <
baraogeral em googlegroups.com>


Quem tem lugar nas cidades?
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/raquelrolnik/2014/03/1422950-quem-tem-lugar-nas-cidades.shtml
*Raquel Rolnik* é urbanista, professora da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo e relatora especial da Organização
das Nações Unidas para o direito à moradia adequada
 10/03/2014
Na tarde de hoje, apresento ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, em
Genebra, meu último relatório temático como relatora para o Direito à
Moradia Adequada.

Ao longo destes seis anos de mandato, pude constatar a grave crise
habitacional que atinge as populações mais pobres das cidades em todo o
mundo. A questão da segurança da posse --tema deste meu último relatório--
está no centro desta crise.

Na África do Sul, no Brasil ou em Nova Déli, foram as populações mais
pobres que perderam suas casas para dar lugar a grandes projetos
relacionados a megaeventos esportivos. Também em países como a Irlanda, a
Espanha, o Cazaquistão e os EUA, quem perdeu suas casas com a crise
financeira e hipotecária, ficando no meio da rua, foram os mais pobres e
vulneráveis.

Todos os dias, em todo o mundo, pessoas são removidas de suas casas em
função de processos de renovação urbana, implantação de infraestrutura e
mesmo de reconstrução pós-desastres naturais, sem que alternativas de
moradia digna sejam oferecidas.

Isso ocorre porque os responsáveis pela implantação destes projetos
consideram apenas os direitos dos atingidos que são detentores de títulos
de propriedade registrados, sem levar em conta a moradia como um direito
humano.

No Brasil, quem tem título de propriedade consegue ser indenizado. Mas quem
está vinculado ao território onde vive por outras formas --pelo direito
consuetudinário, por tradição religiosa, por aluguel, por ocupação-- recebe,
na melhor das hipóteses, indenização pela benfeitoria (a casa) --jamais pelo
valor da terra--, ou um aluguel social de R$ 400 ou menos por alguns meses.

Isso significa mais pessoas sem teto, mais produção de moradias precárias,
mais exposição a vulnerabilidades, mais violações de direitos. Ao contrário
do que previam as metas do milênio, a quantidade de assentamentos informais
no mundo não vem caindo, só aumentando.

Isso porque, nas últimas décadas, tem prevalecido uma interpretação muito
restrita da moradia como mercadoria e, mais recentemente, como ativo
financeiro. O resultado é que a política habitacional predominante no
mundo, inclusive no Brasil, é a promoção do crédito para aquisição da casa
própria.

Tal política pode ser adequada para determinados perfis populacionais, mas
não atende as necessidades dos mais pobres e vulneráveis. Além disso, em
vários países, alternativas como políticas de aluguel social, habitação
pública, cooperativas, entre outras, vêm sendo desconstituídas.

Em muitos casos, como no Chile e no México, famílias de baixa renda só
conseguiram adquirir moradias muito distantes da cidade. Isso gerou enormes
guetos, sem heterogeneidade, muitas vezes tomados pelo tráfico de drogas.
Nessa situação, é comum que as moradias sejam vendidas ou abandonadas. O
Brasil, certamente, caminha na mesma direção.

Uma política que parta do princípio de que a moradia é um direito humano
não pode se basear em um modelo único de posse. Deve, ao contrário,
proteger e promover a posse na sua variedade de formas.

Sem isso, é impossível assegurar a todos um lugar na cidade, garantindo,
progressivamente, o direito humano à moradia, como determinam os tratados
internacionais.

--
            José Furtado
 (19) 3385 5535  -  99255 3327
w <http://www.novaterraambiental.com.br/>ww.campinasquequeremos.org

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