[Macronoroeste-campinas] Fwd: [CNPdC] Marcio Pochmann "Pobres que trabalham e estudam têm jornada maior que operários do século XIX"
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Sábado Outubro 1 19:16:38 CEST 2011
---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Sttela Cabral <stelafeminista em gmail.com>
Data: 1 de outubro de 2011 10:54
Assunto: [CNPdC] Marcio Pochmann "Pobres que trabalham e estudam têm jornada
maior que operários do século XIX"
Para: comissao paulista de pontos de cultura <listapontossp em gmail.com>
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REPASSANDO*
*
*Marcio Pochmann "Pobres que trabalham e estudam têm jornada maior que
operários do século XIX"*
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/pochmann-pobres-que-trabalham-e-estudam-tem-jornada-maior-que-os-operarios-do-seculo-xix.html
1 de outubro de 2011 às 0:43
Pochmann: Pobres que trabalham e estudam têm jornada maior que operários do
século XIX
por Fernando César Oliveira, site da UFPR, sugestão de Luana Tolentino
O economista Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea), classificou ontem à noite em Curitiba como "heróis" os
brasileiros de famílias pobres capazes de conciliar o trabalho com o estudo.
*"No Brasil, dificilmente um filho de rico começa a trabalhar antes de
terminar a graduação ou, em alguns casos, até mesmo a pós-graduação",
observou Pochmann.
"Os brasileiros pobres que estudam e trabalham são verdadeiros heróis.
Submetem-se a uma jornada de até 16 horas diárias, oito de trabalho, quatro
de estudo e outras quatro de deslocamento. Isso é mais do que os operários
no século XIX."*
O presidente do Ipea foi um dos palestrantes na abertura da terceira edição
do Seminário Sociologia & Política, ao lado da professora Celi Scalon
(UFRJ), no Teatro da Reitoria da UFPR. "Repensando Desigualdades em Novos
Contextos" é o tema geral do seminário. Promovido pelos programas de
pós-graduação em Sociologia e em Ciência Política da instituição, o evento
termina nesta quarta-feira (28).
Pochmann lembrou que o Brasil levou cem anos, desde a proclamação da
República, em 1889, para universalizar o acesso das crianças e adolescentes
ao ensino fundamental. "Mas esse acesso foi condicionado ao não crescimento
dos recursos da educação, que permaneceram em torno de 4,1% ou 4,3% do PIB.
Sem ampliar os recursos, aumentamos as vagas com a queda da qualidade do
ensino."
Essa universalização do ensino fundamental, no entanto, não significa que
100% dos brasileiros em idade escolar estejam estudando. Segundo dados
apresentados pelo dirigente do Ipea, ainda existem 400 mil brasileiros com
até 14 anos fora da escola. Se essa faixa etária for estendida para 16 anos,
a cifra salta para 3,8 milhões de pessoas.
"A cada dez brasileiros, um é analfabeto. E ainda temos cerca de 45%
analfabetos funcionais. É muito difícil fazer valer a democracia com esse
cenário."
Em sua fala, Marcio Pochmann também abordou temas como a redução da taxa de
fecundidade das mulheres brasileiras, o crescimento da população idosa, o
monopólio das corporações privadas transnacionais e a concentração da
propriedade da terra.
"O Brasil não fez uma reforma agrária, não democratizou o acesso à terra.
Temos uma estrutura fundiária mais concentrada do que em 1920, com o
agravante de que parte dela está nas mãos de estrangeiros", afirmou o
economista. "De um lado, 40 mil proprietários rurais são donos de 50% da
terra agriculturável do país, e elegem de 100 a 120 deputados federais. De
outro, 14 milhões trabalhadores rurais, os agricultores familiares, elegem
apenas de seis a dez deputados."
Para Marcio Pochmann, a desigualdade é um produto do subdesenvolvimento.
"Não que os países desenvolvidos não tenham desigualdade, mas não de forma
tão escandalosa."
Nem revolucionário, nem reformista
Segundo o presidente do Ipea, a participação dos 10% mais ricos no estoque
da riqueza brasileira não mudou nos últimos três séculos. Permanece
estacionada na faixa percentual em torno de 70 a 75%.
*"Somos um país de cultura autoritária, com 500 anos de história e menos de
50 anos de vivência democrática. O Brasil não é um país reformista e muito
menos revolucionário", sentencia Pochmann. "A baixa tradição de uma cultura
partidária capaz de construir convergências nacionais nos subordina a
interesses outros que não os da maioria da população."*
Marcio Pochmann afirmou que os ricos não pagam impostos no Brasil. "Quem tem
carro, paga IPVA. Quem tem lancha, avião ou helicóptero, não paga nada. E o
ITR [Imposto Territorial Rural] é só pra inglês ver", exemplificou. *"Quem
paga imposto no Brasil são basicamente os pobres."*
Um estudo do Ipea teria demonstrado que os moradores de favelas pagam
proporcionalmente mais IPTU do que os brasileiros que vivem em mansões. *"Quem
menos paga é quem mais reclama de imposto. **Tanto que impostômetro foi
feito no centro rico de São Paulo."*
Pochmann observa que o tema das desigualdes não gera manifestações, não gera
tensão. "Não há greve em relação às desigualdades."
Trabalho imaterial
*Na avaliação de Márcio Pochmann, a sociedade mundial está cada vez mais
assentada no que ele chama de "trabalho imaterial", associado a novas
tecnologias de informação, como aparelhos celulares e microcomputadores. "O
trabalhador está cada vez mais levando trabalho pra casa."
Essa sociedade do trabalho imaterial, conforme o dirigente do Ipea,
pressupõe uma sociedade que tenha como principal ativo o conhecimento.
"Pressupõe o estudo durante a vida toda, e o ensino superior apenas como
piso."*
Pochmann criticou ainda a forma como a comunidade acadêmica tem tratado o
tema das desigualdades no país. "O tema tem sido apresentado de forma muito
descritiva e pouco de enfrentamento real e efetivo. Em que medida a
discussão está ligada a intervenções efetivas, a políticas que possam de
fato alterar a realidade como a conhecemos?"
Na avaliação dele, a fragmentação e a especialização das ciências sociais
aprofundariam o quadro de alienação sobre o problema das desigualdades.
*"As pesquisas não mudam a realidade. Quem muda a realidade é o homem.
Agora, as pesquisas, as teorias mudam o homem. Se mudarem o homem, ele muda
a realidade. Nada nos impede de fazer isso, a não ser o medo, o medo de
ousar."*
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