[Macronoroeste-campinas] Marta Porto: “Cultura Viva é um dos grandes legados que recebemos”

PONTOS SP - Robson Sampaio reductio.ad.ethos em gmail.com
Segunda Maio 2 03:58:19 CEST 2011


Marta Porto: “Cultura Viva é um dos grandes legados que recebemos”
Leonardo Brant <http://www.culturaemercado.com.br/author/leonardobrant/> |
sexta-feira, 29 abril
2011<http://www.culturaemercado.com.br/conversacao/entrevista/marta-porto-cultura-viva-e-um-dos-grandes-legados-que-recebemos/comment-page-1/#respond>2
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Em entrevista exclusiva a *Cultura e Mercado*, a nova secretária da
Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura fala dos desafios
do novo Ministério da Cultura, que está finalizando o processo de
reestruturação para o novo mandato, em relação à cidadania, diversidade,
gestão pública e o legado do programa Cultura Viva.

Ensaísta e consultora, Marta Porto se graduou em jornalismo. Já no início de
sua carreira, decidiu trabalhar para tentar mudar a realidade, em vez de
reportá-la; nos diversos cargos públicos, privados e em organismos
internacionais que ocupou, esteve sempre à frente de projetos voltados para
os campos cultural e social.

A experiência na implementação de ações continuadas, em órgãos públicos e
empresas, tornou-a uma especialista em políticas culturais e de comunicação.
E apontou um caminho estratégico, que hoje se confunde com o que Marta
enxerga como opção viável de combate às desigualdades: ação escorada no
pensamento, transformação de imaginários coletivos, formação de redes
sociais.

Autora de artigos e ensaios publicados na imprensa, em coletâneas de livros
e revistas especializadas, foi diretora da (X)Brasil<http://www.xbrasil.net/>,
escritório de comunicação por causas, de onde se licencia para assumir o
novo cargo no MinC.

*Leonardo Brant – **Como diversidade converge com cidadania?*

*Marta Porto* – A diversidade em si não promove cidadania. Para que isso
aconteça é preciso estimular um ambiente de trocas e diálogo de saberes,
práticas e experiências culturais. Reconhecer as diversas tradições e
expressões contemporâneas da arte e da cultura é uma condição para uma
política cultural de respeito e promoção da diversidade, mas a cidadania –
participativa, solidária e consciente – vem a partir das trocas, de um
imaginário rico onde pessoas diferentes reconhecem e valorizam o
conhecimento e a produção diversa da sua.

Cidadania se estimula com alteridade e não só com diversidade. E se
consolida quando desenvolvemos esses valores e oportunidades na trajetória
de vida das crianças, dos jovens e de cada indivíduo na sociedade. Por isso,
tenho dito que a cidadania é um propósito, um fim, e diversidade uma matriz
que ao dialogar com a ética e os valores universais da democracia, respeito
ao próximo e garantia de direitos, contribui para uma sociedade de bem
estar, mais humana e justa.

*LB – **Quais são as prioridades da Secretaria de Diversidade e Cidadania?*

*MP* – Promover esse ambiente de trocas e intercâmbios culturais a partir de
uma política de reconhecimento e fortalecimento das diversas expressões
culturais brasileiras, tradicionais e contemporâneas.

Priorizar uma política de desenvolvimento cultural para as crianças e
jovens, reunindo o conhecimento acumulado no país nessa área e as práticas e
metodologias culturais existentes – dos mestres e artistas populares as
ações educativas promovidas em espaços culturais ou escolas informais.
Estamos trabalhando com a noção de trajetória, ou seja, um processo que ao
longo dos anos vai criando as condições para que a experiência cultural se
fortaleça na vida de nossas crianças, a partir das suas identidades, mas
sempre buscando a curiosidade pelo novo, pelo diverso.

A  Ministra Ana de Hollanda me pediu que trabalhasse para fazer da política
cultural um dos pilares da formação cidadã no Brasil, e vamos trabalhar com
esse objetivo maior. Gerar oportunidades para que todos os brasileiros, e
não só os produtores e artistas, participem da vida cultural do país.

*LB – **Como você encontrou o programa Cultura Viva e como pretende
entregá-lo?*

O programa Cultura Viva é um dos grandes legados que recebemos, ele rompeu
com uma lógica de fomento no Brasil ao reconhecer a importância e a
vitalidade da produção cultural existente em todos os cantos do país. Para
que ele se consolide como um programa de Estado é importante determinar as
condições políticas e de gestão de avanço. Nos últimos anos o programa
sofreu das dores do crescimento, com a ampliação das redes de pontos de
cultura e o crescimento de editais e prêmios sem ainda contar com uma
estrutura sólida de recursos humanos, de gestão e acompanhamento que
evitasse problemas na ponta ou junto aos órgãos de controle do Estado. E
esse é um grande desafio. Estamos fazendo encontros com as instituições que
avaliaram o programa nos últimos anos, como o IPEA, o Instituto Paulo
Freire, a Uerj, a Fundação Casa de Rui Barbosa para entender como podemos
promover esse avanço com base na própria escuta feita nos Pontos e Pontões
de Cultura e nas recomendações sugeridas nas pesquisas. Nem todos os
problemas são do marco legal, como muitos vem atribuindo, pois apesar de não
ser o adequado, vários programas do Governo Federal nos últimos anos
encontraram boas soluções para trabalhar em conjunto com a sociedade.

É necessário também pensar na renovação dos projetos contemplados pelo
Programa, garantindo que seus princípios se consolidem ao abrir perspectivas
para outras iniciativas e não só a manutenção das já existentes.

Em especial, quando se inicia o processo de implantação das Praças do Pac,
esse princípio de identificar em cada localidade iniciativas e projetos
culturais que possam se articular com as Prefeituras na dinamização desses
espaços, ganha uma força extraordinária. Atender a ideia original de
renovação, considerando que o Estado não pode e não deve, consolidar uma
espécie de rede de privilegiados culturais, é fundamental para democratizar
o acesso aos meios que dispomos.

Não cabe a mim sugerir como o programa será “entregue”ao final dessa gestão,
pois o Cultura Viva se alimenta da dinâmica cultural própria da sociedade,
mas o que posso me comprometer em nome da equipe do Ministério da Cultura, é
trabalhar para consolidá-lo como programa ao trabalhar a sua relação com
outros programas e políticas de governo, como os de promoção da igualdade
racial, de gênero, de atenção aos direitos humanos e a infância e juventude,
dentre outros. E, claro entregá-lo em boas condições de gestão e
transparência de resultados.

*LB – **Como você enxerga a relação entre o Cultura Viva e a cultura
digital?*

*MP* – É uma relação natural e importante. Na verdade, a cultura digital faz
parte da noção maior do Cultura Viva, pois as produções estéticas
contemporâneas cada vez mais convergem para o universo das tecnologias
digitais. Tenho desenvolvido esse tema em meus últimos artigos e ensaios,
levantando o tema da cultura digital como intrínseco as políticas culturais
de hoje. Não é uma mudança simples, que diz respeito apenas ao uso das
ferramentas tecnológicas e todas as oportunidades que elas geram, mas uma
mudança de subjetividade estética e comportamental identificada nas gerações
que nasceram a partir dos anos 90. A experiência cultural, ou seja a maneira
como vivenciamos a criação, a fruição e a distribuição das expressões
culturais, mudou e se quisermos promover políticas culturais que dialoguem
com os jovens de hoje e de amanhã, é preciso atualizar a nossa forma de
pensar e fazer política, em especial no campo das culturas.

Concretamente, sobre o Cultura Viva, além de ser uma oportunidade para a
circulação de repertórios e conteúdos produzidos pelas iniciativas apoiadas
pelo projeto, pode apontar para novas formas de produção que devem ser
contempladas por seu valor cultural em si, e não apenas pelo uso da
ferramenta de mídia.

*LB – **Acompanho o seu trabalho fora do MinC há muito tempo. Percebo um
compromisso muito forte com aquilo que chamamos “gestão cultural”. Como você
compreende a gestão cultural e como pretende colocar esse compromisso à
serviço do #NovoMinC?*

*MP* – Meu compromisso sempre foi com a política, na formulação e na praxis,
mais do que com a gestão, mas considero que boas políticas se fazem com uma
boa gestão e por isso me cerco de um time de pessoas que busca garantir a
excelência necessária, em especial quando trabalhamos com recursos públicos.

No meu entendimento a gestão cultural para avançar tem ela mesma que se
culturalizar. Não é possível assistirmos sem críticas uma onda de formações
nesse campo voltadas apenas a administração, captação e controle de
projetos, sem a necessária imersão em conteúdos que podem formar
culturalmente, como história da arte, cultura brasileira, ética e memória
política. Para dar respostas consistentes diante dos grandes desafios
culturais que o mundo nos coloca hoje, desenhar programas, propor ações,
cooperar nacional e internacionalmente, antes de tudo, nosso gestor tem que
se aprofundar nos conteúdos culturais, ser sensível a diversidade cultural.
Se confunde muitas vezes gestão com administração, ambas são necessárias e
complementares, mas distintas. Essa formação complementar e mais densa que
se exige, por exemplo, para implantarmos nos próximos anos as diretrizes do
Plano Nacional de Cultura, as postas pelas Conferências Nacionais de Cultura
e pelos Planos Setoriais. Isso irá exigir de nós um empenho para adensar os
cursos e escolas técnicas no campo cultural, o que pode abrir uma
perspectiva excelente de trabalho para muitos jovens brasileiros.

O compromisso de imprimir excelência na gestão de nossos programas e ações,
com monitoramento das iniciativas e transparência dos resultados, tem sido
colocado pela Ministra Ana de Hollanda desde o primeiro momento e cabe a nós
cumpri-lo.
Fonte Cultura e Mercado


-- 
Robson Bomfim***

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