[Macronoroeste-campinas] Lancellotti: "Nossa imprensa é prostituta"
Robson Sampaio
reductio.ad.ethos em gmail.com
Quarta Junho 2 15:56:20 CEST 2010
Lancellotti: "Nossa imprensa é
prostituta"<http://altamiroborges.blogspot.com/2010/05/lancellotti-nossa-imprensa-e-prostituta.html>
via Altamiro Borges <http://altamiroborges.blogspot.com/> de Miro em
21/05/10
*Reproduzo a corajosa entrevista do padre Júlio Lancelloti, alvo de uma
campanha abjeta da mídia por seu trabalho na Pastoral da Rua. “Hoje não tem
nada mais indecente do que a nossa imprensa. É elogio dizer que ela é
burguesa, não qualifica precisamente. A nossa imprensa é prostituta”. A
entrevista foi concedida aos jornalistas André Cintra e Renato Torelli e
publicada no sítio Vermelho:*
*Vermelho: Durante os confrontos entre a Prefeitura e a Pastoral da Rua, de
onde partiram os piores ataques contra você?*
*Júlio Lancellotti*: O que foi mais violento e virulento foi o Andrea
Matarazzo com a rede que ele montou e que passa pela imprensa.
*Foi uma campanha orquestrada?*
Sim, sim. Eles agiram pesadamente. O Andrea Matarazzo é muito ligado com
muitos jornalistas, com a imprensa, como aquele José Nêumanne Pinto
(colunista do O Estado de S. Paulo e da rádio Jovem Pan), o Diogo Mainardi
(Veja), o Arnaldo Jabor (TV Globo). Depois você descobre que o Arnaldo Jabor
fez um jantar na casa dele com a Mirian Leitão, o Sardenberg (Carlos Alberto
Sardenberg, da Globo). Fizeram uma reunião com toda essa gente dele para
eleger o Serra.
É engraçado que, hoje, a manchete do Estadão diz que o programa do PT vai
ser questionado porque fez propaganda política. Mas eles queriam que o
programa do PT fizesse o quê? Uma novena? Não se chama horário político?
Queriam que exibissem o quê? Vão lá e dizem que (o programa) comparou o
pobre do humilde, simpático, simplório e popular Fernando Henrique Cardoso
com o ignorante do Lula. Porque o Fernando Henrique Cardoso é um príncipe,
não é? É um dos sábios da Grécia, o Oráculo de Delfos.
Quando começaram essas práticas higienistas em São Paulo, eles foram
procurar apoio científico para dizer se essa pessoa de rua tem poder de
decisão ou se o Estado pode decidir sobre ela. Aí vieram os discursos
científicos, de catedráticos, para dizer: “Cessou a liberdade de escolha
dessa pessoa, que precisa ser recolhida compulsoriamente”. Eles fizeram
grandes discussões na USP, outras com psiquiatra — tudo para justificar
isso.
*Até o meio acadêmico “tucanou” (risos)?*
É porque nada é neutro — a única que se acha neutra no Brasil é a imprensa.
Eles deviam assumir de uma vez. Devia aparecer lá no logo do Estadão, na
Folha de S.Paulo um “apoiamos o Serra”, como o pessoal faz no Twitter. Devia
aparecer lá no Jornal Nacional “nós apoiamos o Serra” — e pronto. Fica claro
quem é quem, quem apoia quem. Não precisa ficar no “somos neutros, demos
tanto tempo de espaço para este, tanto tempo de espaço para aquele”.
Os leitores do jornal percebem. Minha mãe tem 87 anos e diz: “Eu sei quem
escreve cartas para o Estadão. São sempre os mesmos. Tem uma turma de
mulheres aqui que toda semana tem carta publicada, e sempre a gente sabe o
que é a carta dela”. Sei o que passei na mão da imprensa — então eu sei
muito bem que raça é essa.
*Você acredita que, nesta década em especial, a mídia perdeu pudores de vez?
*
Perdeu, mas diz que não perdeu. É aquela que perdeu a virgindade na maior
suruba, mas depois fica apregoando e vive escrevendo poesia sobre sua
própria virgindade. Hoje não tem nada mais indecente do que nossa imprensa.
É elogio dizer que nossa imprensa é burguesa, não qualifica precisamente. A
nossa imprensa é prostituta.
*A mídia é o que existe de mais conservador na sociedade?*
O problema é que é um conservadorismo prostituído. Tem hora que, ouvindo a
rádio CBN, eu preciso desligar, porque começa a me dar nervoso. Está muito
escancarado, muito escrachado. Mas eles têm todo aquele discurso de
neutralidade.
Sabe o que me irrita muito? Ver no Estadão: “O Estado de S. Paulo está sob
censura há 288 dias”. O Estadão devia então pôr outro placar dizendo que ele
está censurando os outros — e há quanto tempo? Porque ele é zeloso de cuidar
de quem lhe censura. E ele censura há quanto? Nesse sentido, eu acho que a
imprensa é realmente uma indecência.
Aí os jornalistas dizem: “Ah, mas o sr. não pode dizer que é todo mundo
assim”. Mas é quem comanda nos jornalões... É como diz o Fábio Konder
Comparato: “Nos jornais, só leio agora a coluna necrológica para saber se
algum amigo meu morreu” (risos).
*O Luis Fernando Veríssimo diz que a única confiável no jornal é a data, mas
vale a pena desconfiar...*
É, pode ter erro (risos). Mas às vezes a única verdade que um jornal fala é
mesmo a data.
*Você não acha que, no caso específico da TV Globo, essa postura mais
ideologizada e tendenciosa atingiu até as novelas, os programas de
auditório, a Ana Maria Braga?*
Mas a Ana Maria Braga só falta andar com a camiseta do Serra...
*Ela já vestiu a do “Cansei” em 2007.*
É como diz o (teólogo) Leonardo Boff: “Todo ponto de vista é a vista a
partir de um ponto”. As pessoas já deviam logo dizer a que vieram. A Hebe
Camargo, por exemplo, já deixa bem claro. Agora até o médico dela teve de
correr atrás, porque ela disse que estava curada, e ele disse que ela não
ficou. É duro.
--
Robson Bomfim***
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