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Quinta Janeiro 7 22:36:22 CET 2010


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Resumo do tópico de hoje
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  - Da crise ao pós-capitalismo [1 atualização]
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Tópico: Da crise ao pós-capitalismo
URL: http://groups.google.com/group/eurecacampinas/t/17c0731416710b4f
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---------- 1 de 1 ----------
De: Robson Sampaio <reductio.ad.ethos em gmail.com>
Data: Jan 07 06:51AM -0200
URL: http://groups.google.com/group/eurecacampinas/msg/54fabc2e182ffc35

Perspectivas 2010: da crise ao
pós-capitalismo<http://www.outraspalavras.net/?p=676>

*Reflexões a partir de uma pesquisa global da BBC e uma contribuição de
Immanuel Wallerstein ao Fórum Social Mundial 2010*

*Antonio Martins,
www.outraspalavras.net**
*

*
*

*
*

Parte da esquerda tradicional está, em várias partes do mundo, desencantada
e deprimida com os desenvolvimentos da crise financeira internacional. Ela
não resultou, ao contrário do que alguns acreditavam, numa implosão do
sistema capitalista. Nas economias mais atingidas, os efeitos dolorosos
tendam a se estender — desemprego e empobrecimento, em especial. Mas a ação
dos Estados evitou tanto um drama social maior quanto uma série devastadora
de falências em dominó (que parecia possível, no final de 2008). Teria sido
mais uma “oportunidade perdida”.

No nascer de um novo ano, vale a pena temperar este pessimismo com alguns
sinais no sentido oposto. Eles indicam que a grande batalha em torno da
crise está apenas começando. E sugerem que, em vez de um desfecho mítico,
pode iniciar-se uma etapa de grandes incertezas e instabilidade, mas também
de enorme abertura para a construção de alternativas aos valores e às
lógicas sociais vigentes. Em outras palavras, pode surgir um cenário em que
o sistema predominante nos últimos séculos ainda se mantém — e no entanto é
possível construir, de modo muito mais acelerado, relações *
pós-capitalistas.*

O primeiro dado é uma vasta pesquisa internacional encomendada pela BBC,
para sondar a percepção das populações mundiais sobre o capitalismo. O
estudo foi conduzido no segundo semestre de 2009. Desdobrou-se em 27 países,
onde foram ouvidas nada menos 29 mil pessoas (pelo instituto Globescan), num
esforço para obter uma mostra da diversidade cultural e política do planeta.
Seus resultados apareceram em novembro, por ocasião do 20º aniversário da
queda do Muro de Berlim. São impressionantes, mas a mídia brasileira
praticamente os ignorou. Duas décadas após o acontecimento apontado à sua
época como o triunfo definitivo das sociedades de mercado, ou como o “fim da
História”, a BBC constatou que apenas uma pequena minoria concorda com a
tese essencial dos neoliberais então vitoriosos: para 11% dos entrevistados
o capitalismo “funciona bem”, e as tentativas de submetê-lo a controles
sociais ou estatais vão “torná-lo menos eficiente”. A impopularidade é
global: em apenas dois países (Estados Unidos e Paquistão), entre os 27
sondados, a aprovação sem ressalvas ao sistema chega a ultrapassar 20% dos
entrevistados.

O imenso grupo dos que desejam mudanças divide-se em dois blocos. Para 51%
dos ouvidos pela BBC/Globescan, o capitalismo “tem problemas, que podem ser
resolvidos por meio de regulações e reformas”. O sentido das mudanças
pretendidas por esta maioria é nítido: os governos precisam “regular a
economia de modo mais vigoroso” e “distribuir riquezas mais intensamente”.
Há, por fim, um terceiro grupo considerável, que deseja ir ainda mais longe.
Para 23% dos que responderam à enquete, o capitalismo “está irreparavalmente
condenado, e um novo sistema econômico é necessário”. O percentual é duas
vezes maior que o dos satisfeitos com o *status-quo*. E avança, em certos
países: chega a 43% na França, 38% no México, 35% no Brasil e 31% na
Ucrânia.

Os dados são notáveis, ainda mais se comparados com uma sondagem feita
poucos anos antes. Em 2005, o mesmo Instituto Globscan verificou, ao ouvir
populações de 20 países, que 63% viam o capitalismo como “o melhor sistema
possível”. Que conclusões tirar da pesquisa — em especial ao cotejá-la com o
sentimento de pessimismo que contamina parte da esquerda mundial?

É muito interessante examinar, a este respeito, o curto — porém profundo,
denso e inspirado — resumo que o sociólogo norte-americano Immanuel
Wallerstein redigiu para a intervenção que fará num capítulos do 10º Fórum
Social Mundial (FSM) 2010. Entre 25 e 29 de janeiro, Wallerstein estará em
Porto Alegre, onde ocorrerá, entre outras atividades, o seminário “Dez anos
depois”. É uma tentativa de balanço da primeira  década de existência dos
fóruns altermundistas [O primeiro FSM ocorreu em janeiro de 2001; veja mais
informações sobre o FSM-10 nos posts abaixo].

O resumo de Wallerstein [ler
original<http://seminario10anosdepois.wordpress.com/2009/12/04/the-current-conjuncture-short-run-and-middle-run-projections/>,
em inglês] afirma, *grosso modo*, três idéias fortes e não-usuais. Primeira:
ao contrário do que pensa a quase totalidade dos economistas e analistas
políticos, a crise financeira *não *está se dissipando. Ao contrário: ela
deverá provocar, em breve, a explosão dramática de uma nova bolha — a das
dívidas soberanas dos Estados, em especial o norte-americano. Explica-se: a
onda de pânico gerada a partir de meados de 2008, nos mercados financeiros,
levou boa parte dos investidores a aplicar em papéis emitidos pelos Estados,
e considerados mais seguros. Na maior parte dos países (o Brasil é uma rara
exceção), as dívidas públicas dispararam, tanto por este motivo quanto pelo
enorme esforço realizado no salvamento dos bancos e na ressurreição das
economias. Em algum momento, não distante, os investidores desconfiarão que
os Tesouros são incapazes de honrar tal dívida e passarão a pressioná-los.

Wallerstein prossegue: os Estados Unidos, centro da crise e maior devedor do
planeta, serão os mais atingidos, o que acarretará dois processos de
dimensões globais. O dólar sofrerá forte desvalorização (devido ao número
crescente de investidores interessados em livrar-se de títulos emitidos pelo
Tesouro norte-americano), podendo perder sua condição de moeda de circulação
internacional. Isso retrairá os investimentos internacionais, devido aos
riscos de grandes prejuízos, em consequência de oscilações muito fortes
entre as moedas. E o enorme poder geopolítico dos EUA, já fortemente
tensionado no Iraque e Afeganistão, declinará rapidamente, já nos próximos
cinco anos.

O texto não abre espaço para triunfalismos vazios — e aqui vem sua segunda
idéia essencial. *Nada *garante, frisa o autor, que um planeta com os
Estados Unidos e o dólar mais fracos será, automaticamente, melhor que o
atual. Em várias partes do mundo, forças ultra-conservadoras, intolerantes e
violentas lutarão para ocupar o espaço aberto por este declínio. É o caso
dos próprios EUA, onde Wallerstein prevê “demonização de Obama (acusado de
traição)”, criação de milícias de extrema-direita e mesmo pressão para
intervenções militares. Mas, também, da Europa (os sinais de direitização e
de xenofobia se multiplicam) e do Oriente Médio (a retração dos EUA pode
abrir caminho para o controle do Afeganistão pelo Talibã, um golpe militar
pró-fundamentalistas islâmicos no Paquistão e um ataque militar de Israel
contra o Irã, com efeitos imprevisíveis).

Entre os desdobramentos positivos, Wallerstein elenca a provável redefinição
dos espaços geopolíticos no mundo, com o vazio da retração norte-americana
abrindo espaço para uma ordem mais multilateral. A Europa Ocidental tenderia
a voltar-se para Leste e ampliar laços com a Rússia. China, Japão e Coréia
buscariam uma aproximação difícil, mas necessária para consolidar um bloco
de poder no Oriente. Na América do Sul, poderia surgir um terceiro bloco,
“liderado pelo Brasil” e obrigado a enfrentar, entre outros desafios,
“múltiplas tentativas de golpes de direita”.

A terceira idéia forte e inovadora do texto é sua visão sobre as batalhas
“de médio prazo”: as que se concluirão em 15 ou 25 anos, se darão “não entre
Estados, mas entre forças sociais presentes em todo o mundo”, e serão
determinantes para definir o desenho do mundo pós-crise. Para Wallerstein, o
tema relevante, ao contrário do que supõe parte da esquerda, já não é saber
“se será possível ou não acabar com o capitalismo” — mas “organizar-se para
o sistema seguinte”, que “estará em processo de construção”.

É que a crise, sugere o autor, levará as próprias classes hoje poderosas a
buscar sua própria alternativa. “Os grandes controladores do capital
reconhecerão abertamente a impossibilidade de acumulação futura” e adotarão
“a busca ativa de modelos sistêmicos que lhes permitam conservar as três
características essenciais do atual: hierarquização, exploração e
polarização”.

Wallerstein frisa, como conclusão: é preciso afastar, também aqui, as visões
mistificantes. “A História não está do lado de ninguém… O resultado final
[da batalha] pode ser um sistema muito melhor ou muito pior que o atual
sistema-mundo capitalista. O essencial será (1) alcançar lucidez analítica,
(2) acompanhada de escolhas morais fundamentais e de (3) ação política
inteligente e efetiva. Não será nem um pouco fácil”.

É um alerta, com alguns tons dramáticos. Mas sugere liberdade: o futuro não
virá de uma implosão mágica, provocada pela crise; nem estará comprometido,
se ela deixar de ocorrer. Em 2010, e em todos os anos seguintes, ele está em
nossas mãos.

*Mais:*

*> *Há bons textos sobre a vida e obra de Immanuel Wallerstein na Wikipedia
(português <http://pt.wikipedia.org/wiki/Immanuel_Wallerstein>,
inglês<http://en.wikipedia.org/wiki/Immanuel_Wallerstein>
)

> Outro excelente texto do sociólogo norte-americano, sobre a crise e os
desafios dos que querem o pós-capitalismo, saiu na edição brasileira do *Le
Monde Diplomatique, *em julho de 2008.
*Construir outro mundo, em meio à
tempestade*<http://www.diplo.org.br/2008-07,a2502>


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