[Macronoroeste-campinas] FW: EDITORIAL - BRASIL DE FATO
Isabel Barbosa
issil em hotmail.com
Sexta Novembro 16 21:39:00 CET 2007
From: alavermelha em hotmail.comSubject: EDITORIAL - BRASIL DE FATODate: Wed, 31 Oct 2007 07:20:29 +0300
São Paulo, 31 de outubro de 2007 Camaradas, segue o editorial do Brasil de Fato que começa a circular hoje, quarta-feira. Putabraço,Alipio Freire
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EDITORIAL
BRASIL DE FATO
Edição 244
30.10.2007
Um poema por Izabel
A trabalhadora Izabel Nascimento de Souza já não corre perigo de vida.
Saiu do coma.
Perdeu o olho direito e tem o braço do mesmo lado afetado por paralisia motora.
Izabel foi surrada, espancada e levou três tiros da milícia contratada pela transnacional suíça Syngenta para reprimir e eliminar o trabalhadores rurais sem-terra.
O tiro que atingiu a trabalhadora Izabel no rosto, entrou por seu olho, desceu até o ombro e se alojou na região dos pulmões. A trajetória indica que provavelmente o tiro foi dado de cima para baixo, e que, também provavelmente, Izabel estava agachada e olhando para cima, quando foi baleada.
Neste mesmo confronto foi assassinado com dois tiros a queima-roupa o militante e trabalhador sem-terra Keno – Valmir Mota.
Gentil Couto Viera, Jonas Gomes de Queiroz, Domingos Barreto e Hudson Cardin foram feridos e recolhidos a hospital. Dezenas de outros trabalhadores foram igualmente feridos por armas de fogo e espancamento.
Sete pistoleiros da empresa NF Segurança foram presos em flagrante. A empresa foi contratada pela Syngenta, para “fazer o trabalho”. O Ministério Público havia pedido a prisão preventiva dos sete, para a apuração dos fatos. No entanto, por decisão da juíza Sandra Regina Bittencourt Simões, já foram soltos. A decisão da juíza – todos sabem – atrapalhará o inquérito policial.
A decisão da juíza teve o objetivo de dificultar as investigações e inviabilizar o andamento do inquérito policial.
A NF Segurança, de acordo com a delegacia da Polícia Federal de Cascavel, age na ilegalidade. Sua proprietária, Maria Ivanete Campos de Freitas, e dois funcionários foram presos em flagrante em 27 de setembro passado. Na ocasião, encontraram munição contrabandeada estocada na sede da empresa. Suspeita-se que a NF seja uma companhia de fachada usada com o objetivo de acobertar ações de grupos como a Sociedade dos Produtores Rurais do Oeste (SRO) e o Movimento dos Produtores Rurais (MPR).
Suspeita-se que o nome fantasia NF Segurança esconda uma milícia privada.
No último dia 25, a Associação do Comércio e Indústria de Cascavel (Acic), em reunião aberta ao público, legitimou a ação dos pistoleiros da NF. O presidente da associação, senhor Valdinei Antônio da Silva, acusou os trabalhadores rurais sem-terra de “traficantes, ladrões e seqüestradores”, tratando a milícia privada da NF como “uma empresa de segurança legítima”.
De acordo com o Banco de Dados da Luta pela Terra, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), coordenado pelo geógrafo e professor doutor Bernardo Mançano, o município de Cascavel, o Pontal do Paranapanema, o sudeste do Pará, o Médio Vale do Rio São Francisco e o entorno de Brasília são as regiões que concentram os mais violentos senhores ruralistas, contumazes em “fazer justiça” com as próprias mãos.
Frente ao caso da trabalhadora rural Izabel, impossível não lembrar o poema de Berttold Brecht, Jenny dos piratas:
Meus senhores hoje eu lavo coposFaço uma por uma as camas de todosE se os senhores me atiram um mísero tostão,
Limpo a mão no avental e logo agradeço
Mas sei que um dia sairei daqui.
Uma noite vai se ouvir um gritoE os senhores vão perguntar
“Quem foi que gritou no cais?”Estarei lavando os copos e sorrindoE os senhores vão perguntar
“Por que ela está sorrindo?”
Um navio de piratasCom cinqüenta canhõesAportará então no cais.
Os senhores vão me dizer
“Lave os copos, menina”E vão me atirar mais alguns centavosVou guardar o dinheiro e em seguida
arrumar as camas dos senhores
embora saiba que nelas ninguém jamais deitaráApenas eu sei o que vai acontecer
Nessa mesma noite será ouvido um imenso estrondo e os senhores hão de perguntar
“O que aconteceu no cais?”Nesse momento os senhores me verão na janela e irão se indagar
”O que ela está fazendo ali?”
O navio de velas brancasCom cinqüenta canhões a bordoCuspirá fogo sobre a cidade
A alegria vai desaparecer da cara dos senhoresPorque a cidade inteira irá pelos ares.E quando tudo estiver arrasado e destruídoRestará de pé apenas este hotel miserável“Quem será que escapou da tragédia?”
Durante a noite os senhores hão de berrar,Perguntando-se todo o tempo
“Quem será que vive ali?”De manhã então eu abrirei a porta.E os senhores perguntarão:
“Quem é esta mulher?”
Um navio de piratasCom cinqüenta canhõesSuas velas brancas enfunará
No final dessa manhã, cem piratas desembarcarãoE em silêncio avançarãoAcorrentarão um por um dos senhores Atirando todos aos meus pés.
Daí então quando me perguntarem
que cabecinhas deverão rolar
Eu direi sem cerimônia:
TODAS
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