[Ginga-argentina] Fwd: TV Digital: governo perdeu as rédea do processo - Leitura recomendada!
Ricardo Rios
ricrios at gmail.com
Mon Aug 15 17:07:40 CEST 2011
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From: Ricardo Rios <ricrios at gmail.com>
Date: 2011/8/15
Subject: TV Digital: governo perdeu as rédea do processo - Leitura
recomendada!
To: tvinterativa at googlegroups.com
Extraído do Blog do Dia a Dia, bit a bit.
TV digital: governo perdeu as rédeas do
processo<http://smeira.blog.terra.com.br/2011/08/15/tv-digital-governo-perdeu-as-rdeas-do-processo/>
Esta entrevista é um marco. LF fala pouco mas, desta vez, diz muito. conta a
história do que rolou até agora nos bastidores da interação no SBTVD. Seja
lá qual for o futuro do padrão brasileiro de TV digital e de seus mecanismos
de interação, LF dá um testemunho marcante, daqueles que entram para a
história.
(...)
0. uma curta biografia: quem é você, em um parágrafo, quais são os
principais links pra seu trabalho, onde você pode ser achado?…
Sou Professor Titular do Departamento de Informática da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro. Fui presidente da área de
computação na CAPES, membro do Conselho de Assessores de Ciência da
Computação (CA-CC) do CNPq, vice-presidente da Sociedade Brasileira de
Computação (SBC) e atual membro de seu Conselho, e vice-presidente do
Laboratório Nacional de Redes de Computadores (LARC). Fui representante da
comunidade científica no Comitê Gestor da Internet no Brasil e membro do seu
Conselho Administrativo. Fui o responsável pelo desenvolvimento do ambiente
Ginga-NCL do Sistema Brasileiro de TV Digital e Recomendação ITU-T para
serviços IPTV. Sou o atual representante da academia no Módulo Técnico da
Câmara Executiva do Fórum de TV Digital Brasileiro e de seu Conselho
Deliberativo. Sou coeditor da Recomendação H.761 no ITU-T e Coordenador do
GT de Middleware do Fórum SBTVD. Meu laboratório está neste
link<http://www.telemidia.puc-rio.br/?q=pt-br/node/15> e
o e-mail neste outro<http://smeira.blog.terra.com.br/2011/08/15/tv-digital-governo-perdeu-as-rdeas-do-processo/[email protected]>
.
1. qual a história da interatividade no SBTVD até agora? quais foram os
percalços da partida, da definição do padrão?
A história da linguagem NCL, e do middleware Ginga, começa em 1991, quando
seu modelo de dados, chamado NCM (Nested Context Model), resolveu um
problema em aberto na área de Sistemas Hipermídia. No ano de 1992, a solução
encontrada foi incorporada ao padrão MHEG da ISO, que veio a se tornar o
primeiro middleware para TV digital, sendo até hoje o middleware adotado no
Reino Unido. Em 2005 submetemos a máquina de apresentação de aplicações NCL
(o Ginga-NCL) como proposta para o SBTVD. Na época, o nome Ginga ainda não
existia; na proposta se chamava MAESTRO. O Nome Ginga surgiu quando a
proposta foi aceita como a única inovação, de fato, do SBTVD.
*O início da definição do padrão, no entanto, não foi fácil.* Muitos
duvidavam que o Brasil pudesse ter feito uma tecnologia melhor da que a
existente nos países ditos desenvolvidos. Cheguei a ouvir (em palestra na
Câmara dos Deputados em Brasília) que o Brasil devia se preocupar com a
exportação de frango e de laranja, e não com o desenvolvimento de
tecnologia.
Tendo sido comprovada como a melhor tecnologia, tivemos, felizmente, apoio
do Governo Federal na época, quando fui convidado a fazer o discurso de
lançamento do SBTVD, cerimônia na qual o Presidente Lula e o ministro das
Telecomunicações citaram o Ginga (passou a ser chamado assim poucos dias
antes do lançamento oficial) como a grande conquista brasileira.
No entanto, ainda havia resistências no setor de radiodifusão e na indústria
de recepção. Apenas quando pesquisadores europeus, japoneses e americanos
começaram a elogiar a NCL como a melhor solução existente, salientando que
finalmente se tinha uma solução tecnológica adequada para a TV digital, foi
que a aceitação veio de fato. Ou seja, foi preciso sermos primeiro
reconhecidos lá fora. Para se ter uma ideia, *quem propôs a discussão de NCL
e Ginga-NCL como Recomendação ITU-T não foi o Brasil, e sim o Japão*.
2. quais foram os principais problemas do caminho, do lançamento do padrão
em 2007 até agora?
O primeiro problema foi que diziam, em 2007, que não havia implementação
comercial do Ginga-NCL e que o GEM (a parte imperativa escolhida, pela
compatibilidade com o padrão Europeu) tinha problemas de royalties. Quanto a
esse último ponto, ninguém atacava o Ginga-NCL, que incomodava justamente
pelo contrário, por ser software livre e sem qualquer royalty. Ou seja,
disponível para absolutamente todos.
Por não necessitar pagamento de royalties e por sua simplicidade, várias
empresas de software foram criadas oferecendo a solução Ginga-NCL, ficando o
primeiro problema resolvido. Foi então que alguns fabricantes perceberam que
o Ginga-NCL fazia tudo o que o GEM fazia e melhor, de onde surgiu a proposta
que se lançasse receptores só com o Ginga-NCL; o que chamaram de Ginga 1.0
na época. A ideia foi contestada pelos radiodifusores, que diziam que a
presença do GEM era importante pela interoperabilidade com os outros
padrões.
Em 2008, como já mencionei, a NCL e o Ginga-NCL foram propostos como
Recomendação ITU-T para serviços IPTV. Aprovada em abril de 2009, *pela
primeira vez na história das TICs o Brasil contribuiu com um padrão mundial,
na íntegra*. Um marco que a imprensa ignorou.*Como fato curioso, um
jornalista, muito renomado, que evito dizer o nome, até por vergonha, de um
dos veículos mais lidos do Rio de Janeiro, ao ser apresentado ao fato, disse
para seu repórter trazer uma notícia do Adriano (que acabava de ser
contratado pelo Flamengo) em alguma balada, pois era isso que trazia
leitores*.
Vale ressaltar que até hoje o ambiente Ginga-NCL é o único ambiente de
middleware padrão para todas as plataformas IPTV, TV a cabo, TV broadband
(TV conectada) e TV terrestre (TV aberta). Mesmo dentro do SBTVD, é o único
padrão para todas as plataformas (receptores fixos, móveis e portáteis).
Ainda em 2009, iniciou-se um movimento para substituição do GEM por uma nova
solução da Sun, que seria incorporada como Ginga-J, a princípio, livre de
royalties. O movimento cresceu e em uma reunião do Conselho Deliberativo do
Fórum foi dada a decisão final. Na época, o Ginga-NCL já pertencia à
comunidade de software livre, tendo recebido contribuições de mais de uma
dezena de universidades e outras instituições; várias empresas foram também
criadas sobre essa solução.
A academia, por quase unanimidade (com exceção apenas do LSITec da USP,
entre as 17 instituições ligadas ao Fórum do SBTVD), votou por não adotar a
nova solução, proposta pela Sun e apadrinhada pelos radiodifusores, uma vez
que a NCL, com sua linguagem de script Lua, fazia absolutamente tudo o que
fazia a nova solução e com vantagens. A perda da interoperabilidade (tão
propalada) vinda pela não adoção do GEM, não justificava mais a presença do
Java nas estações clientes.
Na época, a indústria de recepção concordava com a academia, *mas, devido a
um acordo feito nos bastidores, a academia ficou isolada e perdeu a votação
por 12 a 1* (só os radiodifusores mais a indústria de recepção somam 8 votos
no Fórum do SBTVD).
Com o imbróglio do Ginga-J resolvido, começaram as reclamações que não podia
haver nenhum produto sem antes ter uma suíte de testes para o Ginga. Deve
ser ressaltado, no entanto, que a suíte de testes para o Ginga-NCL existe e
também já é hoje um projeto ITU-T. Mais ainda, pela primeira vez, uma
Questão ITU-T endossou oficialmente um trabalho colaborativo por meio de
serviços web para a concepção dessa suíte.
Nesse meio tempo, o padrão brasileiro foi adotado em mais 10 países
latino-americanos e começa a ser adotado em alguns países da África, e tudo
tendo a interatividade do Ginga como carro chefe. Mais ainda, alguns desses
países, como é o caso da Argentina, resolveram começar só com o Ginga-NCL, o
que deveria ter sido feito no Brasil, na opinião derrotada da academia.
É bom ressaltar, para melhor entendimento, que, para ser Ginga,
obrigatoriamente deve-se ter o Ginga-NCL. Outras partes opcionais podem ser
agregadas, como o Ginga-J (obrigatório apenas no caso do SBTVD para
receptores fixos), ou outros serviços, como aqueles oferecidos pelas TVs
conectadas.
3. na sua avaliação, qual é o atual estado de coisas? quais são as
perspectivas de uso prático, em escala comercial, de interatividade no
SBTVD? você acha que as emissoras "*deixaram interatividade pra lá*", depois
de ter conseguido vários de seus objetivos na transição do analógico para o
digital, inclusive evitando a fragmentação do espectro para entrada de mais
estações de TV?
*Pois é, eu ainda não quero acreditar que as emissoras tinham apenas como
objetivo impedir a entrada de mais estações de TV*. Ainda sonho que haja
algum compromisso público por parte daqueles que ganharam concessões
públicas. Talvez seja apenas um sonho…. Mas não pensem que a academia foi
ingênua.
O ideal da inclusão digital, da democratização não só do acesso à
informação, mas também do processo de produção de conteúdo, nos levou ao
projeto da NCL e sua linguagem de script Lua. Sabíamos da dificuldade da
transmissão, a terceira perna do processo de democratização, mas contávamos
com o sucesso da TV pública e, principalmente, com a entrada futura dos
serviços de IPTV.
Não acho que as emissoras tenham deixado a interatividade para lá.*Creio
apenas que, por incompetência ou lentidão, não encontraram um modelo de
negócio para a interatividade.* O que as emissoras fazem hoje de
interatividade é muito pobre. Não explora nem 10% do que o Ginga-NCL
possibilita. A produção ainda está nas mãos de engenheiros, que são bons
engenheiros, mas produtores de conteúdo sem qualquer criatividade. *Ainda
não deixaram a interatividade chegar às mãos de quem realmente poderia criar
as aplicações “campeãs”.*
Ainda se pensa na interatividade como widgets acoplados a programas da TV
convencional. Nesse sentido, o Ginga acrescenta pouco a mais do que os
serviços das TVs conectadas, em termos de desempenho e expressividade. Só
ganha por ser padrão e de código aberto. Entretanto, isso é muito
importante. O grande problema das TVs conectadas atuais é que cada
fabricante adotou sua solução proprietária, desde a linguagem de
desenvolvimento dos widgets até a distribuição por meio de sua própria loja.
Mesmo que se queira padronizar uma dessas formas proprietárias, basta fazer
uma ponte com a NCL. Mais uma vez, NCL é uma linguagem cola, que não
substitui, mas agrega facilidades. Com NCL, os fabricantes de receptores
ainda poderiam controlar a distribuição de widgets, ainda controlariam
totalmente o negócio, mas com a vantagem adicional de permitir a quem cria o
conteúdo escrever um único código para todas as plataformas. Hoje, como
está, o código tem que ser portado de um fabricante para outro.
A interatividade, no entanto, é muito mais do que widgets. *São narrativas
interativas, aplicações de interatividade geradas ao vivo, exploração de
múltiplos dispositivos de exibição, personalização de conteúdo, etc., tudo o
que a NCL pode oferecer a mais para complementar o que existe nas TVs
conectadas.*
É bom repetir que NCL é uma linguagem de cola. Ela não substitui, mas
complementa o que pode ser oferecido nas TVs conectadas. O Ginga-NCL pode
conviver em completa harmonia com os serviços da TV conectada, agregando
outros serviços, como os de IPTV e TV terrestre (VoD, Vídeos interativos ao
vivo, narrativas interativas, etc.). Ginga-NCL é o ambiente escolhido pelo
ITU-T para possibilitar essa*interoperabilidade e convergência total*,
quando então pararemos de ficar classificando as TVs digitais pelos seus
modelos de negócio (TVs broadband, TVs broadcast, WebTV, IPTV), mas a
consideraremos apenas como TV digital, com todos os seus serviços oferecidos
agregados.
*É muito preocupante a situação de hoje. Quem vai desenvolver conteúdo
interativo tem que usar N padrões diferentes nas N redes de distribuição
disponíveis?* NET, TVA, Telefônica, ViaEmbratel, Oi, Sky, SBTVD, Samsung,
LG, Sony, Philips, TOTVS… *Quem vai pagar pelo trabalho de portar o conteúdo
interativo para as múltiplas plataformas?*
A solução para isso é o que se persegue hoje nos órgãos de padronização e é
nesse ponto que o Brasil está muito à frente e é invejado em todo o mundo,
por ser o único local onde esse modelo pode começar já.
*Infelizmente, a falta de conhecimento dos dirigentes de nossas “filiais”
das indústrias de recepção e dos nossos radiodifusores os impedem de ver um
futuro diferenciado para o país e para seus negócios.*
4. o governo e os órgãos reguladores brasileiros poderiam ter feito mais por
interatividade no SBTVD? mais do que? se tivessem feito, e o que deveriam
ter feito, qual poderia ter sido o impacto?
*O governo começou muito bem quando viu na TV digital não apenas um negócio
para a indústria de recepção, que no país ainda não passa de montadoras, e
para o setor de radiodifusão*.
A inclusão social pelo acesso e geração de conteúdo, o fortalecimento das
TVs Públicas, a criação de empresas, de software e outras, a geração de
empregos de qualidade, tanto na área tecnológica quanto nas artes e cultura,
foram o carro chefe inicial do SBTVD.
Foi com esse enfoque que a NCL foi projetada: uma linguagem simples e fácil
de ser usada por não especialistas. Uma linguagem simples, a ponto de
permitir receptores de baixo custo sem, no entanto, perder sua
expressividade, sem limitar em nada a criatividade. Uma linguagem simples,
mas muito mais expressiva do que todas as outras linguagens declarativas
usadas em qualquer middleware para TV digital existente até os dias de hoje.
Também com essa concepção, foram criadas as bibliotecas NCLua. *Lua é hoje a
linguagem mais usada no mundo na área de jogos e entretenimento, mas parte
de nossa indústria de conteúdos parece ainda ignorar isso.*
Ginga-NCL foi desenvolvido como software livre, e desse software mais de uma
dezena de pequenas empresas foram criadas, empresas de médio a grande porte,
e centenas ou talvez milhares de empregos de alto nível tecnológico.
*Mas o governo parou nesse primeiro momento, perdendo as rédeas do processo,
que passou para os radiodifusores e mais recentemente para a indústria de
recepção.*
Ao não incentivar set-top boxes com o Ginga-NCL (e no primeiro momento era
só o que poderia ser feito, pois a discussão do Java permanecia) e deixar o
aparecimento de “zappers” (set-top boxes sem interatividade Ginga); ao
permitir que a indústria de recepção se concentrasse apenas nas classes A e
B com suas TVs de alta definição com conversores embutidos, impediu o acesso
das classes menos privilegiadas a essa nova tecnologia.
*A TV Pública ainda está patinando*, e o incentivo ao desenvolvimento de
aplicações (narrativas) interativas esbarrou na falta de capacidade dessas
emissoras (na verdade, as emissoras privadas também não têm tal
conhecimento).
*De fato, faltou uma política para geração e distribuição de conteúdo.*
A academia vem fazendo sua parte, o Programa Ginga
Brasil<http://gingabrasil.ginga.org.br/> é
mais um exemplo, formando produtores de conteúdo, apoiando e incentivando a
criação de empregos e empresas (inclusive de grande porte), apoiando órgãos
do governo, como DATAPREV e PRODERJ no desenvolvimento de conteúdos de
inclusão social.
*Entretanto, produzir para ser transmitido por quem?* Sem essa perna de
inclusão, as duas outras (acesso e produção de informação) não operam. Temos
que operacionalizar a TV pública.
O Plano Nacional de Banda Larga traz nova esperança. É mais uma chance que
temos de levar tudo adiante. Temos de ver o plano também como propiciador de
serviços. E a TV digital é um dos mais importantes, principalmente no que
tange à inclusão social. Temos de tratar a IPTV, Web TV, broadband e
broadcast TV não como soluções antagônicas (porque não são nem no modelo de
negócios), mas complementares. O Brasil lidera esse processo mundialmente,
reconhecidamente, no ITU-T. Todos esperam e vigiam nossos movimentos. O
Ginga-NCL é visto como a *ferramenta de* *integração* (e aí vai um recado
para a indústria de recepção mal informada: ferramenta de integração e não
de substituição de suas aplicações residentes, como as que conferem acesso a
suas lojas de widgets).
*Tomara que o governo retome as rédeas do processo.*
Mas a sociedade civil não está parada. Através das TVs Comunitárias, TVs
Universitárias, Pontos de Cultura e outros coletivos audiovisuais, ela não
vai deixar a peteca cair. Quem viver verá. Não subestimem esse movimento.
5. você acha que a TV digital interativa aberta está perdendo espaço para
interatividade via IP e padrões globais propostos por forças há tempos
dominantes no mercado mundial, como mostrado neste link<http://bit.ly/qhenYv>?
pensando bem… era possível prever isso há uma ou meia década, nos estágios
de discussão e desenho e, depois, de lançamento do SBTVD?
*Tudo era previsível desde o início. A academia presente no processo nunca
foi ingênua.* O Brasil se destaca na pesquisa na área há mais de 20 anos. O
que acontece é que tudo está sendo visto de forma errada. Felizmente, lá
fora isso está mudando, basta ver os esforços do ITU-T nos vários eventos de
interoperabilidade e também os esforços do W3C. Aliás, o último evento de
interoperabilidade foi conjunto e no Brasil (…e a imprensa nem noticiou, não
é?).
Mas vamos lá. Os radiodifusores europeus se basearam em uma tecnologia ruim,
o MHP, que nunca pegou e nunca foi padrão. A Europa era uma bagunça com
várias implementações não compatíveis. Com isso, e por falta de
escalabilidade, fizeram pouca coisa de interessante (tirando o Reino Unido,
que usava outro padrão, o já mencionado MHEG). Por falta de escala, não
conseguiram definir um modelo de negócios. O Brasil, ou melhor, a América
Latina, é vista como a grande chance de se ter um padrão de fato. Na
PUC-Rio, somos constantemente assediados por consórcios europeus querendo
fazer testes no Brasil, pois não se vê chance de executá-los em uma Europa
fragmentada.
Enquanto isso, a indústria de recepção conseguiu encontrar seu “negócio de
interatividade” através de lojas, proprietárias, de widgets. Nesse momento a
TV broadband (ou TV Conectada) passou a chamar atenção.
Já os serviços de IPTV eram oferecidos sempre como proprietários, e corriam,
e ainda correm, por fora dessa briga.
Acontece que tudo vai se unir, quer queiram quer não. É só uma questão de
tempo. *Forças retrógradas podem atrasar o processo, mas não vão
pará-lo. *Quanto
mais cedo perceberem que as coisas são complementares, todos vão ganhar, os
negócios e a inclusão social, que foi o motor do SBTVD.
*A TV* *híbrida (como gostam de chamar os europeus) vai chegar.* Aliás,
mencionando os europeus, o principal fabricante do principal padrão híbrido
lá proposto incorpora o Ginga-NCL interoperando com sua solução. Mais um
exemplo…, soluções interoperando o Ginga-NCL e LIME (padrão japonês) já
estão prontas nos fabricantes de set-top boxes híbridos. Note que sempre com
o Ginga-NCL. *Por que só nós brasileiros é que não vemos nosso potencial?*
6. considerando uma penetração cada vez maior de conectividade móvel, por um
lado, e TV a cabo, por outro, qual é, na sua opinião, o futuro do SBTVD? vê
o futuro da interatividade, na TV digital, dentro do SBTVD, como uma opção
economicamente viável? em que termos?…
Bem a resposta a essa pergunta resume todas as outras.
No SBTVD, o Ginga-NCL é o único ambiente obrigatório tanto para dispositivos
fixos, quanto para os móveis e portáteis da TV terrestre. No ITU-T é o
ambiente padronizado para serviços IPTV. O ITU-T também trata de widgets e,
embora ainda não definitivamente aprovado, o Ginga-NCL é visto como a
solução para interoperar com as várias soluções proprietárias existentes.
Partindo do pressuposto que todos os serviços são complementares, o
middleware brasileiro (adotado hoje já em 13 países), ou pelo menos o
Ginga-NCL, tem um enorme potencial de suporte global, e isso pode muito bem
ser explorado.
O setor de radiodifusão deve procurar seu nicho. As emissoras precisam
começar a fazer aplicações reais de TV interativa terrestre, e não só de
widgets incorporados a seus programas. Isso eles podem até fazer também, e
vender nas diversas lojas de fabricantes de receptores.* Mas será que aí
está seu negócio?*
Que tal explorar as narrativas interativas, os programas ao vivo, como
eventos esportivos com a interatividade (a aplicação) gerada ao vivo?
Propagandas personalizadas com narrativas interativas (vejam que começam a
aparecer várias muito interessantes no YouTube) são sensacionais…
*A TV Pública também tem de ocupar o seu lugar.* O conteúdo gerado pelos
vários coletivos de audiovisual só vão encontrar nelas os seus transmissores
(*e hoje posso garantir que tais coletivos já têm uma interatividade muito,
mas muito mais interessante do que a produzida nas grandes emissoras*). Os
serviços de IPTV (e WebTV) devem ser vistos como complementares, bem como os
da TV conectadas. Assim teremos, de fato, uma solução invejável, e o SBTVD
poderá ser visto como um todo (e a Argentina já está fazendo isso).
Temos dois problemas: *será que o pessoal do setor de radiodifusão e da
“nossa” indústria (montadora) de recepção vai conseguir enxergar tão longe* e
pensar um pouco também na sua missão para o país? *Será que o governo vai
reassumir as rédeas do processo e propor uma política para o setor e para o
país*, como é seu papel, ou vai deixar as coisas acontecerem ao acaso?
Neste último parágrafo, LF deixa no ar a grande pergunta sobre o SBTVD:*será
que vamos ter uma política, de novo** *[como o brasil queria ter no
começo...] *para TV digital?*
TV, desta vez, não era simplesmente definir como a imagem era montada e
transmitida, e como deveriam ser os sistemas de codificação, transmissão,
recepção, decodificação e apresentação. Depois que tudo isso foi decidido, o
país resolveu [?] inovar e incluiu um padrão para interação.
Depois, como bem diz LF, o brasil "perdeu as rédeas do processo". A dúvida,
agora, é se há coesão e energia para dar direção e sentido a um esforço que
vem, por mais que seus principais atores tentem, se arrastando há quase
quatro anos e mostrando, como quase sempre, como é que se inova no brasil. *Ou,
a bem dizer, como é que não se inova no brasil.*
*
*
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